Do quintal de casa, Badejo passou para os laboratórios da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, após anos de estudos, teve seu momento de Eureka. Ele é o inventor de um tijolo totalmente ecológico, que congrega as qualidades do tijolo produzido sem queima e ainda por cima resolve um dos maiores problemas de grandes e pequenas cidades: a destinação de seus resíduos sólidos.
A história de Luiz Badejo não tem nada de amadora. O trabalho com resíduos foi monitorado desde o início por seu pai, químico de profissão, e depois por pesquisadores da UFRJ, durante seu mestrado em Tecnologia, com ênfase em processos de engenharia, quando trabalhou com reciclagem de resíduos no aterro de Gramacho (Duque de Caxias – RJ). Depois, o auxílio dos professores do Instituto Militar de Engenharia (IME), durante o doutorado em Ciências dos Materiais – que teve de parar por um tempo, por problemas de saúde – o ajudaram a produzir tijolos realmente ecológicos. “Acredito firmemente na necessidade de mitigar os efeitos perniciosos que os armazenamentos de resíduos provocam em nosso ambiente. E não deixa de ser um trabalho de administração e gestão”, diz.
Badejo explica que a chave para transformar alface, agrião, lixo velho, produtos de compostagem, cinzas de incineradores e lodo de estações de tratamento em tijolos para construção está na estabilização dos materiais. “Esta estabilização é que o grande feito, se assim se pode dizer. O que a literatura de engenharia afirma é a impossibilidade de misturas de materiais orgânicos com cimentos, pois estes não endureceriam, a não ser que fossem gastos volumes economicamente inviáveis de cimento para superar os efeitos nocivos que os materiais orgânicos produzem na mistura”, diz.
Contrariando o que a literatura até então pregava, de que a mistura com cimento poderia conter no máximo 5% de orgânicos, Badejo chegou a uma fórmula que utiliza, no mínimo, 28% desse tipo de material. Em seus experimentos, ele já utilizou até 60% de orgânicos em relação ao peso total do artefato, utilizando somente 10% de cimento. “Este é o mesmo percentual que se usa para tijolos de solo-cimento, os tijolos ditos ecológicos. É uma mistura bastante econômica e plenamente viável do ponto de vista financeiro”. Para chegar a esse resultado, o administrador partiu do pressuposto de que, sob o olhar da mecânica dos solos, o material residual tratado ou os vegetais descartados apresentam características similares aos solos que hoje podem ser utilizados na fabricação de tijolos e outros artefatos para a construção civil.
1- resto de inceneração de lixo doméstico 2- restos de tijolo normal 3- feito com lodo de tratamento de esgoto 4 - Compostagem e entulhos |
Ecológicos apenas em partes Os hoje chamados tijolos ecológicos ganharam esse nome porque, em seu processo de fabricação, não são levados ao forno para cura e queima do material, o que evita o desmatamento para produção do carvão usado no forno e a emissão de gases de efeito estufa durante a queima. A estimativa é que, para cada mil tijolos convencionais fabricados, cinco árvores sejam derrubadas. Ao invés do forno, estes tijolos são fabricados em prensa manual ou hidráulica e curados ao ar livre. Além disso, produtores deste tipo de tijolo garantem que ele evita o desperdício – atualmente, cerca de 1/3 do material de uma obra vai para o lixo - proporcionando mais de 25% de economia em relação ao sistema construtivo convencional. O ecológico, no entanto, pára por aí. A matéria-prima para a fabricação das peças é comum no setor de construção: solo (saibro ou terra de barranco, que não possui capim ou restos orgânicos) e cimento em proporções variadas ou argila e uma substância agregadora de solo. |
Durante estes anos de trabalho com o tijolo 100% ecológico, várias instituições já procuraram Badejo para que ele tentasse resolver seus problemas de destinação dos resíduos - como a Usina Verde, uma empresa incineradora de resíduos domésticos que queria dar um fim mais útil para as cinzas produzidas -, além de estudantes e pessoas querendo comprar a invenção. Mas os maiores interessados, segundo Badejo, continuam calados. “Lixo é uma responsabilidade do governo municipal, por força de lei. Assim, seria inevitável a participação deste poder pelo menos em alguma instância”, defende.
Badejo conta que já recebeu um convite para a montagem de uma fábrica de tijolos dentro da Usina de Compostagem da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) do Rio de Janeiro. O problema é que o investimento em maquinário não será oferecido pela empresa, o que torna a iniciativa inviável para o administrador. “Seria muito bom, pois teríamos uma das matérias-primas no local, a mão-de-obra viria de cooperativas populares que também já trabalham no local, e seria excelente para se fomentar um novo ciclo para os resíduos municipais, gerando mais empregos, mais renda, construções mais baratas e menos lixos para serem armazenados e que posteriormente contaminariam solos, águas, e atmosfera.”
http://www.oeco.com.br/reportagens/37-reportagens/23053-a-casa-do-futuro-feita-de-lixo
Muito legal!!!
Mas usando o cimento a coisa complica pois esse precisa na produçao de muita, muita energia.
ResponderExcluirAinda fico com a casa feita de barro e sacos de rafia.
Obrigado.