Revista Galileu- CO(2)penhague 15
por Felipe Pontes Foi um fiasco. E foi um fiasco tão grande que até para concordar no tamanho do desastre houve divergência. Nicolas Sarkozy, presidente da França, usou a palavra “catástrofe”. Lula “riu para não chorar”. Africanos chegaram a abandonar a mesa de negociações. E Barack Obama, a grande esperança de que os Estados Unidos fossem fazer a diferença para o bem... Bem, Obama mal participou. Chegou no último dia e não saiu do lugar comum do “precisamos negociar”.A 15ª Conferência do Clima da ONU (COP15), que aconteceu de 7 a 18 de dezembro, foi o maior encontro diplomático da História. Tinha a missão de estancar o aquecimento global e gerar meios de impedir o assustador aumento de 2 oC ainda neste século. Reuniu líderes mundiais de 193 países em uma maratona de discussões que não levaram a muita coisa. O mundo continuará a ficar mais quente. Países podem desaparecer do mapa já em 2050. E, fechadas as contas, o acordo firmado empurrou a decisão de cortar as emissões de dióxido de carbono (CO2), o grande vilão atmosférico, para uma próxima reunião neste ano.
O resumo do evento pode ser sentido nas palavras do secretário-executivo das Nações Unidas para o Clima, o holandês Yvo de Boer: “Os países-ilhas têm medo de desaparecer, os petrolíferos vivem da economia que queremos eliminar, os ricos têm medo de perder empregos, os países em desenvolvimento querem crescer: a Índia tem 400 milhões de pessoas sem energia elétrica. O que diremos a eles?”.
Pontos altos O objetivo principal era fechar um acordo internacional para substituir o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997. Se não saiu o acerto para reduzir em 50% as emissões de CO2 até 2050, ao menos ficou claro quem está disposto a ajudar. * Lula foi bem. O presidente pressionou líderes a “fazer sacrifícios” e anunciou que o Brasil contribuirá com US$ 5 bilhões para ajudar países pobres a se adaptarem às mudanças climáticas. * Sua frase deu um tom de drama à convenção: “o veredicto da história não vai poupar quem não assumir suas responsabilidades”. * A participação de líderes como Gordon Brown, premiê britânico, Nicolas Sarkozy, presidente da França, e Angela Merkel, chanceler da Alemanha, mereceu destaque. Eles se mostraram abertos a rediscutir o processo industrial de seus países. | |
Pontos baixos Obama pagou pela expectativa que gerou. Sua imagem de Capitão América ambiental engordou as expectativas do mundo. * Na Dinamarca, descobrimos que ele é apenas um político. E bastante reticente. Obama não virou a mesa. Não peitou o impasse das negociações e fez pouco para a redução das emissões de CO2 de seu país. * Para piorar, ele só chegou à conferência no último dia. * Um dos grandes problemas da COP15 foi a criação de um fundo de US$ 100 bilhões ao ano para reduzir o aquecimento global sensivelmente até 2020. A briga ficou para definir como esse dinheiro será fiscalizado. * A organização se mostrou um fracasso. Foram expedidas 45 mil credenciais, três vezes mais do que o Bella Center, sede do evento, suportava. No lado de fora, os protestos foram constantes. Somente em um dia, 1.200 ativistas foram presos. |
Um grupo de 29 cientistas liderados por Johan Rockström, da Universidade de Estocolmo, na Suécia, publicou em outubro um artigo na revista Nature no qual definia nove limites físicos do planeta Terra. Ou seja, quais são os pontos fracos do globo que, se a humanidade insistir em cutucar, chegaremos quentinhos à tal catástrofe ambiental. Nós já quebramos três dessas barreiras. A boa notícia é que uma delas (o ozônio) está sendo curada pelo esforço humano. O resto ainda está em jogo | |||||
Por dentro (e por fora) da COP15 * Cientistas da ONU sugeriram que os países ricos cortem as emissões de gases-estufa em 25% a 40% até 2020. Com isso, o mundo teria 50% de chances de não ter o aumento superior a 2 oC. * A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) afirmou que o setor vai reduzir as emissões em 50% até 2050. * A China planeja fechar pequenas usinas de carvão. Cerca de 70% da matriz elétrica do país utiliza esse sistema, o mais poluente dos combustíveis fósseis. * O bilionário George Soros disse que US$ 100 bilhões, o dinheiro “parado” do FMI, poderiam bancar um fundo para salvar o planeta. Sua tese foi afundada pelas delegações e economistas. * Oito ativistas do Greenpeace escalaram o Coliseu de Roma para exibir um cartaz pedindo a assinatura de um acordo. O protesto teve o respaldo do prefeito Gianni Alemanno. * Representantes do povo esquimó foram a Copenhague. A ideia era conseguir dinheiro para construir refrigeradores comunitários — já não faz mais frio suficiente para estocar carne naturalmente. * Thom Yorke, ativista e líder do Radiohead: “A COP15 foi conduzida por reprimidos de meia-idade”.
O Brasil em Copenhague * A chefe da delegação brasileira, Dilma Rousseff, cometeu uma gafe ao discursar: “O meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Com a frase, ela concorreu ao “Fóssil do Dia”, antiprêmio entregue por ONGs aos que atrapalhavam o acordo climático. * Os três pré-candidatos à Presidência estavam por lá. José Serra e Marina Silva apresentaram propostas semelhantes, quase sempre discordando de Dilma. * O Brasil ficou na primeira posição em um ranking das “nações que mais lutam para evitar as mudanças climáticas”. * O País foi cobrado pela União Europeia sobre uso de petróleo do pré-sal. * Foi anunciado na bolsa BM&F Bovespa que o mercado de ações terá um índice “verde”. Os investidores poderão aferir os desempenhos financeiro e ambiental das companhias simultaneamente. * O Inpe divulgou estudo mostrando que a pecuária bovina é responsável por 50% das emissões do Brasil. Conclusão Por que não deu em (quase) nada? Dê uma olhada no mapa acima. Se as emissões continuarem no patamar atual (e a meta de 2020 permanecer ignorada), o planeta vai encarar um aumento de 3 oC na temperatura em menos de 15 anos. É um desastre. Por isso, ao fechar as portas com um documento tímido, a COP15 se credenciou como o mico de 2009. Um acordo para apaziguar a decepção mundial foi assinado por líderes de nações importantes, como EUA, China, Brasil e África do Sul. Mas, na prática, governantes saíram de Copenhague com um papel que, no máximo, esboça normas para “verificar ações para o corte de gases-estufa”. Ou seja, a decisão foi empurrada para frente. O que quer dizer que, até o fim de 2010, um novo encontro deverá ser agendado. Enquanto isso, o planeta perde mais uns meses na corrida contra o desastre ambiental... Nas palavras do negociador e embaixador brasileiro Sérgio Serra: “Foi um resultado decepcionante”.
Destes, US$ 113 bilhões irão para geração de energia limpa. Mas nem todo esse dinheiro virá do orçamento da União. Ou seja, o Brasil terá que captar recursos externos. E, apesar de o número ser alto, muitas das obras fazem parte do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) Fonte: Revista Galileu e http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI113924-17579,00-COPENHAGUE.html 20/12/2009 Quem ganha e quem perde com o fracasso em CopenhagueFonte: André Trigueiro- CBN |
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Érica Sena
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