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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Entrevista com a ecologista holandesa Louise Vet.

Uma economia do tipo “pega-fabrica-descarta” esgota os recursos naturais


Para deter a perda da diversidade biológica e dos recursos naturais é preciso realizar mudanças profundas em nosso sistema econômico e na comunicação de questões científicas, segundo a ecologista holandesa Louise Vet. 

 Vivemos em uma economia linear de “pega, fabrica e descarta” que esgota os recursos naturais e destroi os ecossistemas, disse Vet, professora de Ecologia Evolutiva na Holanda. Mas o choque entre os interesses econômicos e ecológicos pode ser conciliado pela chamada “economia circular”, propõe.

 Vet, que é diretora do Instituto de Ecologia da Holanda, conversou com a IPS sobre as soluções concretas que a economia circular oferece para evitar maiores perdas ecológicas e permitir obter benefícios comerciais.

IPS: A senhora é uma pesquisadora profissional em questões eco
lógicas, mas também procura acertar um bom casamento entre economia e ecologia. Como consegue?

Louise Vet: Fazer as coisas de outro modo é, antes de tudo, um desafio empresarial. Muitas pessoas agora pensam e tratam de inovar em beneficio do planeta, da economia e das pessoas ao mesmo tempo, conhecido como triplo resultado. Os políticos têm a tendência de ouvir mais os empresários do que os ambientalistas, e por isso fazemos as coisas com esse setor. Por exemplo, quando há uns dois anos foi formado um novo governo na Holanda, cerca de 80 empresários de multinacionais começaram a destacar a importância da sustentabilidade na hora de decidir a integração do novo gabinete. A notícia apareceu na primeira página do jornal holandês mais importante, o NRC, com as assinaturas de todos eles. Antes, consideravam que a sustentabilidade era uma temática da esquerda, mas como a apresentamos como um desafio à inovação com possibilidade de lucro, e não como um problema, a direita começou a se interessar. Eu e meus companheiros temos almoços regulares com políticos holandeses e falamos sobre desmatamento e programas de pesca para introduzir esses temas em suas agendas.

IPS: Qual o maior obstáculo para alcançar esse acordo?

LV: Damos muito pouca atenção aos objetivos de longo prazo, algo difícil para a indústria atual. Um dos principais obstáculos é a forma como nossa economia valoriza as coisas. Tributamos o trabalho, não os recursos. Se mudarmos nosso sistema financeiro, o que penso que deveríamos fazer, outras coisas serão valorizadas. Há uma grande quantidade de recursos em nosso planeta que são limitados e que, portanto, é preciso aumentar seu preço. Tentamos obter um tipo de cálculo econômico financeiro diferente, por exemplo, cobrar por cada molécula de carbono utilizada. Quanto mais raro for, mais caro será, e os impostos serão maiores. Isso mudará o sistema financeiro por completo e, assim, os benefícios serão diferentes.

IPS: Quanto tempo mais é necessário?

LV: Espero que os países ocidentais possam reunir dinheiro para salvar as selvas que são tão importantes para nosso planeta. Uma árvore se valoriza sozinha pela quantidade de madeira que proporciona. Mas, quando é avaliada por seus serviços ao ecossistema, é enormemente importante para todos os habitantes do planeta. O corte tem consequências de longo prazo sobre os serviços do ecossistema.
 
A árvore absorve dióxido de carbono, filtra o ar, tem importância em matéria de micro fauna e flora e para a diversidade. Uma árvore tem muito mais valor do que uma simples peça de madeira para uma mesa e uma cadeira.

IPS: Há pouco, a senhora convidou todo o mundo a fazer suas necessidades em seu centro de pesquisa. Por quê?

LV: Um de nossos recursos mais limitados é o fósforo, que está em todos as células de nosso DNA, em todos os organismos vivos, plantas ou bactérias. Usamos o fósforo em nossos fertilizantes artificiais para facilitar a agricultura e alimentar a população mundial. Perturbamos o círculo do fósforo no mundo, apesar de termos apenas 80 anos antes que se acabe e sua disponibilidade fique limitada a poucos lugares. Quando isso ocorrer, não teremos mais fertilizantes artificiais, o que será um desastre para a produção de alimentos. No futuro, o fósforo será como a água potável. 

Na Holanda, o esgoto corre por um sistema de tubulação que cobre todo o país. Os desperdícios lamacentos contêm grandes concentrações de fósforo, mas não o aproveitamos. Tentamos construir um novo modelo para recuperar o fósforo da urina e dos excrementos, fechando o ciclo de nutrientes. Temos privadas a vácuo, onde é usada água de origem subterrânea, não a potável. Os excrementos vão para tanques de fermentação e após produzirem energia a partir da “água negra”, como a chamamos, o resto fica ali com todos os seus minerais. Depois vai para as algas que tomam os valiosos nutrientes como o fósforo. Após serem colhidas, voltam ao solo como fertilizantes. Seremos o primeiro laboratório desse tipo.

IPS: A senhora diz que “vivemos em uma economia equivocada”. A que se refere?

LV: Temos um sistema econômico de pega-fabrica-descarta, sem pensar no que usamos do planeta e o que fazemos depois com isso. Essa economia linear é que está mal. Não valorizamos o suficiente nossos próprios recursos. A energia não é o verdadeiro problema – podemos resolvê-lo. São os recursos. Estamos em uma nave espacial, temos poucas coisas no planeta e, se as destruirmos, será virtualmente impossível viver aqui. Temos de ter uma economia circular para, no mínimo, manter a atual quantidade de recursos limitados, em lugar de reduzi-los ainda mais.(IPS/Envolverde) Liza Jansen, da IPS 

Fonte: Mercado Ético

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Érica Sena
Pensar Eco

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