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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Finlândia planeja banir e 'esquecer' seu lixo nuclear

Nas palavras do cineasta dinamarquês Michael Madsen, "é um lugar que devemos lembrar de esquecer".
Em uma ilha a mais de 100 km de Helsinque, na cidade de Eurajoki, engenheiros finlandeses estão cavando um túnel. Quando estiver pronto, daqui a dez anos, será uma serpentina com 5 km de extensão e 480 m de profundidade no leito de gnaisse, rocha que é o alicerce da Finlândia há 1,8 bilhão de anos.
E lá, em uma escuridão que ainda está sendo criada, os bastões de combustível usados nos reatores nucleares da Finlândia -cheios de elementos radioativos da tabela periódica com que sonhava Lorde Voldemort, cuspindo nêutrons e raios gama- serão selados para sempre, ou pelo menos por 100 mil anos.
Esse lugar, Onkalo ("oculto" em finlandês), é o tema de "Into Eternity" (Pela eternidade), um novo documentário de Madsen.
Onkalo deverá durar 20 vezes mais do que as pirâmides duraram até hoje -tanto que os construtores do lugar têm de levar em conta a próxima era glacial, quando o peso de 3 km de gelo sobre a Finlândia será adicionado à tensão sobre os recipientes de dejetos enterrados, cilindros de cobre com 5 cm de espessura.
Pode parecer loucura, ou mesmo criminoso, obrigar 3.000 futuras gerações de seres humanos a cuidar de nosso lixo tóxico. Mas já é tarde demais para rejeitar a era nuclear, e o filme de Madsen chega no momento perfeito para participar de uma discussão mundial sobre o que fazer com suas cinzas.
No início de junho, juízes de direito administrativo da Comissão Regulatória Nuclear dos EUA começaram a ouvir argumentos sobre se o Departamento de Energia pode continuar com o fechamento do sítio na montanha Yucca, em Nevada, onde o país planeja desde 1987 guardar seu lixo nuclear.
Se o governo Obama vencer, os americanos voltarão ao ponto de partida para descobrir como se livrar de suas 70 mil toneladas radioativas, incluindo 200 megalitros que restaram do início da era nuclear em tanques com vazamentos no deserto no Estado de Washington.
Já há de 230 mil a 270 mil toneladas de dejetos de alto nível de radioatividade no mundo, a maior parte em piscinas no terreno de usinas de energia nuclear onde os bastões precisam resfriar durante anos antes que possam ser colocados em recipientes.
Onkalo está sendo construído para fazer seu trabalho sem intervenção ou manutenção humana. Quando estiver pronto e selado, daqui a cerca de cem anos, o problema será menos manter a radioatividade lá dentro do que as pessoas fora.
Infelizmente, nada na história sugere que os seres humanos realmente serão impedidos de entrar.
Na verdade, os próprios construtores, segundo sua declaração de impacto ambiental, não descartam a possibilidade de que futuros avanços tecnológicos tornem possível escavar tudo de volta e reprocessá-lo para criar mais material para combustível ou armas, e nesse caso Onkalo será como um tesouro enterrado.
As pirâmides, afinal, não são um precedente auspicioso. Elas foram saqueadas, e seus habitantes, dispersos para os museus do mundo por arqueólogos intrépidos e ladrões de túmulos que não foram detidos pelos rumores da Maldição da Múmia.
Madsen parece concordar. O filme é enquadrado como uma mensagem para o futuro, para aqueles que possam encontrar esse lugar por acaso.
O próprio Madsen aparece na escuridão, iluminado por um fósforo, apenas pelo tempo suficiente para falar sobre coisas como a ideia de que estamos encontrando os últimos remanescentes dos fogos que um dia aqueceram nossa civilização.
Teremos sorte, nesse sentido, se os futuros cidadãos galácticos se lembrarem da Terra como algo mais que contos de fadas. Estamos sempre lendo sobre cápsulas do tempo enterradas, mas raramente ouvimos falar que elas foram desenterradas.
Uma das mais famosas descobertas arqueológicas dos tempos modernos, o exército de cerâmica enterrado com o primeiro imperador chinês, Qin, foi feita por um agricultor que cavava um poço.
Como espécie, somos bons para esquecer. Por isso, talvez a melhor e definitiva defesa contra as pessoas fazerem qualquer coisa em Onkalo seria simplesmente esquecer que existe. A melhor maneira de guardar um segredo é não deixar ninguém saber que há um segredo.
Mas e o dever ético de advertir as futuras gerações com algum tipo de marcador que sobreviveria ao soterramento da Finlândia por geleiras e à evolução da língua? Se de fato os recipientes forem redescobertos daqui a centenas ou milhares de anos, podemos imaginar a reação de nossos descendentes ao receber uma surpresa tão incômoda.
É claro que nós mesmos podemos ser surpreendidos, como o camponês que encontrou o exército de Qin. Uma piada que circundou o projeto de Onkalo durante algum tempo, segundo o filme de Madsen, poderia ter vindo diretamente de uma novela de Arthur C. Clarke. E se a primeira coisa que a equipe encontrasse quando começasse a escavar fossem cilindros deixados por alguém?

Fonte: Jornal Folha de SP, 07/06

Onde vamos parar??? Que medoooooo!
                                     Érica Sena


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