Aquecimento pode obrigar cidades a repor areia das praias, diz cientista
As cidades litorâneas do Brasil precisam
se preparar para comprar areia. Muita areia. Segundo o pesquisador
Dieter Muehe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a
elevação do nível dos mares pelo aquecimento global pode obrigar os
municípios a reporem as praias “engolidas” pelo oceano.
De acordo com Muehe, esse tipo de intervenção – comum em locais em
que o mar causa muita erosão – pode se tornar cada vez mais necessária
nas praias urbanas, pois nelas a areia não pode recuar em direção ao
continente com a subida do nível do mar, já que na maior parte dos casos
há muros ou ruas na beira da água.
O pesquisador, autor do estudo “Erosão e Progradação do Litoral
Brasileiro”, publicado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2007, é
considerado um dos maiores especialistas brasileiros no estudo do
litoral.
Edifícios – Segundo relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), da ONU, a
elevação da temperatura do planeta pode causar um aumento entre 18 e 59
cm no nível do mar até 2100. A previsão, apesar já ser preocupante, é
considerada modesta por muitos especialistas.
Além de garantir de volta a área usada pelos banhistas, preencher
novamente as praias poderia proteger as construções litorâneas, segundo o
pesquisador da UFRJ. “Se não for feito o aterramento, os muros que
cercam as praias vão junto com a erosão e o mar vai começar a atingir os
prédios”, explicou o especialista durante a reunião anual da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre nesta semana
em natal.
Boa qualidade – Devolver a areia às praias, contudo,
não será tarefa simples. “É necessário avaliar de onde tirar areia, já
que a que vai ser colocada tem que ser parecida com a original”, avisa
Muehe. A matéria-prima usada na construção, por exemplo, seria muito
grossa, além de cara.
Uma possível fonte de areia de boa qualidade é a que fica próxima às
praias, no fundo do mar, explica o pesquisador. “Uma área em que a areia
pode ser retirada é a plataforma continental, mas não pode ser em
profundidades maiores do que 10 metros, pois ficaria muito próximo à
costa, e também não pode ficar muito longe, pois aí a areia começa a
juntar com lama, com carbonato.”
Outro problema, explica o especialista, é que a obra teria que ser
refeita de tempos em tempos, já que as ondas tenderão a levar a areia de
volta para o mar.
Ventos – Muehe conta que não é apenas o aumento do
nível do mar que pode interferir no desaparecimento de algumas praias.
Com o aquecimento global, pode haver mudança de direção dos ventos,
quebrando o equilíbrio natural de transporte de sedimentos no mar.
Outro fator que pode diminuir a areia nas praias é a construção de
barragens nos rios, já que elas impedem as grandes enchentes,
responsáveis por levar terra para o mar.
Em situações específicas, de acordo com Muehe, a elevação dos oceanos
pode causar o aumento da faixa de areia. É o que pode acontecer se as
ondas atingirem falésias – penhascos à beira mar, mais comuns no
Nordeste Brasileiro. Nesse caso, a erosão poderá desgastar as rochas e
aumentar a disponibilidade de areia. Isso só ocorreria, contudo, em
locais onde não houvesse barreiras artificiais em volta da praia. (Fonte: Iberê Thenório/ G1)
Fonte: Ambiente Brasil,28/07
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Érica Sena
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