Uma das grandes preocupações ambientais atuais está relacionada à
poluição marinha. Dentre os vários poluentes que ameaçam este sensível
ambiente estão os plásticos, um material em crescente utilização na
sociedade moderna e que é extremamente prejudicial ao meio ambiente
devido à sua resistência à degradação.
A matéria prima plástica é comercializada em forma de “pellets”,
grânulos com cerca de 5 mm de diâmetro, que estão sendo levados em
grandes quantidades ao ambiente marinho, devido a perdas nas etapas de
produção, transporte e/ou transformação em bens de consumo, pelos rios
ou drenagem de águas pluviais, ou ainda diretamente derramados no mar.
No ambiente, os pellets podem permanecer flutuando por longos períodos
ou vão se acumular em praias arenosas causando impactos ambientais,
econômicos e estéticos.
Como no Brasil não há registros sobre a ocorrência destes pellets,
desenvolvemos um projeto que se configurou como um estudo básico, porém
estratégico, para o entendimento da contaminação do ambiente costeiro.
Assim, este projeto utilizou as praias da Enseada de Santos, litoral do
Estado de São Paulo, como uma área piloto para se compreender os
padrões de distribuição ao longo e ao largo da praia e em profundidade
no sedimento. Para amostrar a distribuição dos pellets por
profundidade, em uma área onde a abundância era grande, 100 amostras de
0,1m³ (1×1×0.1m)(até 1m; 10 a cada profundidade) de sedimento foram
retiradas e colocadas em baldes com água do mar. Os pellets
sobrenadantes foram retirados e contados.
Para a distribuição ao largo da praia (perpendicular à linha d’água),
uma outra área foi dividida em 12 pontos eqüidistantes (a cada 6,5m)
desde a área mais alta da praia até o limite da maré alta. Em cada
altura, 25 amostras de sedimento de 0.018m³ (diâmetro do trado de
0.1524×1m) foram sorteadas ao longo de uma faixa de 50m, e os pellets
separados e contados. Já para a análise da distribuição ao longo da
praia a enseada foi dividida em 15 áreas eqüidistantes, cada uma com 3
transectos transversais à linha de deixa da maré, divididos em 10
alturas eqüidistantes (cuja distância variou conforme o tamanho do
pós-praia). Em cada altura amostras de 0.036m³ (0.1524×2.0m de
profundidade) de sedimento foram coletadas e os pellets contados.
Com base na dinâmica de deposição dos pellets foi verificado que eles
realmente se concentram na porção mais superior do sedimento e ainda
na região do pós-praia. As maiores médias foram observadas nos 30cm
superiores do sedimento, com cerca de 1.100 pellets por 0,1m3,
diminuindo a cada 10cm de profundidade e finalizando com 32,6 em
0,9-1m. Na primeira altura do pós-praia (0m; região mais próxima à
calçada) foi observada uma densidade média de 136 pellets/0.018m3,
diminuindo gradativamente nas seguintes até atingir o valor de 0.44
nos 78m. A distribuição ao longo da praia mostrou que os pellets se
concentraram nas áreas mais próximas ao Canal de Santos, com uma taxa
média de 82 pellets/0.036m3, e chegando à densidade máxima de 139/0.036m3
(4.559 pellets/m³). Destaca-se também o último ponto amostrado,
correspondente ao final da enseada de São Vicente, com um aumento
considerável na densidade de pellets em relação aos pontos anteriores
(cerca de 22/0.036m3).
Os resultados revelam que os pellets devem estar sendo depositados há
muito tempo e que a ocorrência em profundidade no sedimento pode ser
decorrente de eventos extremos que remobilizaram e depois re-depositaram
o sedimento com certa velocidade, aprisionando os pellets. Só eventos
dessa magnitude teriam condições de soterrar esses pellets a até 2
metros de profundidade, pois possuem densidades baixas e bóiam na água o
mar. A distribuição dos pellets também está relacionada com a
circulação da Baía, que apresenta correntes de direção sul e, juntamente
com as correntes provenientes do Canal de Santos, depositam os pellets
preferencialmente nas primeiras praias (próximas ao canal e ao Porto,
possível fonte de emissão de pellets ao ambiente) e ainda na porção
final da baía (área 15).
Com estas informações foi possível definir um método de amostragem
quantitativo para se comparar diferentes tipos de praia e ainda reunir
informações sobre a contaminação deste resíduo sólido na costa paulista.
Desta forma, poderá auxiliar o governo local e órgãos responsáveis,
além do setor privado relacionado (indústrias de plásticos, por
exemplo), a avaliarem os métodos de produção, processamento e transporte
dos pellets, e a determinarem medidas consistentes para controlar e
prevenir sua perda para o ambiente. Como desdobramento do presente
projeto espera-se estruturar uma linha de pesquisa para avaliar os
efeitos físicos, químicos e ecológicos dos pellets no ambiente.
Aruanã Bittencourt Manzano e Prof. Dr. Alexander Turra
Aruanã Bittencourt
Manzano, bióloga pela UNESP e Mestre em Oceanografia Biológica pela
Universidade de São Paulo e Prof. Dr. Alexander Turra, biólogo pela
Unicamp, Mestre e doutor em ecologia pela Unicamp, docente do Instituto
Oceanográfico pela Universidade de São Paulo.
Devidamente retuitado!
ResponderExcluirabçs
cintia
~preservblog~
Muito interessante o texto!Espero que com a informação muitas pessoas se conscientizem sobre o aspecto ambiental!
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