O Ministério do Meio Ambiente lançou para consulta pública no dia 14
deste mês de Setembro o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (2011-2013). O período de consulta é de 45 dias e espera-se
que a sociedade brasileira organizada contribua com sugestões para
aperfeiçoar o documento que deverá orientar nos próximos três anos -
portanto no curto prazo - um conjunto de ações que pretendem mobilizar o
País para uma importante mudança de cultura.
O tema da produção e consumo sustentáveis ganha a cada dia maior
relevância no cenário nacional e internacional. Iniciativas
consideráveis podem ser observadas nos últimos 10 anos tanto por parte
do setor público quanto do setor privado que buscam praticar uma
economia mais limpa, observando critérios de conservação ambiental, e de
diminuição dos Gases de Efeito Estufa (GEE). Se de um lado aumenta o
arcabouço legal que multiplica os mecanismos de comando e controle por
parte do Estado, que levam à conformidade ambiental cada vez mais
exigente, de outro proliferam os chamados mecanismos voluntários,
adotados por empresas e instituições privadas, como os relatórios de
sustentabilidade sob égide do Global Report Initiative (GRI) e do
Greenhouse Protocol.
Sem uma produção mais limpa (com o menor impacto ambiental e social
negativo possível) e um consumo mais responsável (com a consciência do
impacto gerado pelas escolhas pessoais e institucionais), é impossível
progredir rumo a uma economia de baixo carbono, ou rumo à uma economia
mais sustentável, como é o desejo de todos que entendem a gravidade da
degradação ambiental e do aquecimento global.
Sem o esforço para alterar os atuais padrões de produção e consumo
também não é realista almejar uma sociedade mais justa, pois a disputa
por recursos naturais estratégicos pode levar ameaças concretas à paz, a
tolerância entre etnias e povos. A mídia vem mostrando o crescimento de
conflitos em torno do acesso à água, bem como ao petróleo em várias
partes do mundo. No Brasil verifica-se um crescente açodamento entre
desenvolvimentistas e conservacionistas, mostrando que uma agenda de
convergência entre desenvolvimento e conservação dos recursos naturais é
extremamente importante para prevenir uma guerra ideológica que não
interessa a ninguém.
O Brasil vem tomando iniciativas robustas no campo legal, criando
marcos regulatórios importantes como a Lei Nacional de Recursos Hídricos
(1998), do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC - 2002),
da estruturação do próprio Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA),
da Política Nacional de Educação Ambiental, e outras, que buscam
oferecer parâmetros e amparo jurídico para novos e mais ousados passos.
Mais recentemente, o Plano Nacional do Clima (PNMC) de 2008 e a
Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010 colocaram mais dois
importantes pilares no conjunto de políticas públicas brasileiras que
visam orientar cada vez mais a nossa economia e a nossa sociedade no
caminho do desenvolvimento sustentável. Diminuir a emissão dos GEE e
tratar adequadamente os resíduos gerados em todo o ciclo de manufatura
de bens e serviços são, sem dúvida nenhuma, pontos de partida essenciais
para se forjar uma “Green Economy”, ou uma economia orientada por uma
modernização ecológica como querem alguns teóricos que analisam este
importante momento da história humana - quando começamos a realizar a
transição de um capitalismo intensivo em recursos naturais para um
capitalismo intensivo em conhecimento e tecnologia.
O Plano ora colocado para a apreciação da sociedade brasileira, além
de cumprir importante acordo que o Brasil assumiu junto às Nações Unidas
- em 2007 (aderindo ao assim chamado processo de Marraquech), significa
também uma decisiva sinalização por parte do governo brasileiro sobre a
qualidade do crescimento que se deseja incrementar nos próximos anos. O
promissor cenário de crescimento sustentado com taxas entre 5 e 7% ao
ano pode vir a ser catastrófico se certas medidas não forem tomadas para
lidar com os efeitos colaterais do desenvolvimento. Ninguém deseja que o
padrão de engarrafamento do trânsito da cidade de São Paulo seja
universalizado para o restante das cidades brasileiras. Ninguém deseja
que o poder recém-adquirido pelas classes médias urbanas - especialmente
a C, D e E - se torne uma avassaladora geração de resíduos que vão
parar em rios, córregos e mares.
O Plano de Produção e Consumo Sustentáveis é uma agenda positiva,
pois articula ações e idéias, muitas já em curso, absolutamente
concretas e verificáveis, que buscam um melhoramento da sociedade.
Também aponta para modelos de relacionamento entre os atores sociais,
mais colaborativos e consensuais. Em estreita consonância com a Política
Nacional de Resíduos Sólidos - cuja regulamentação sairá em poucas
semanas - o Plano conceitualmente trata da responsabilidade
compartilhada e enfatiza a necessidade do engajamento dos consumidores e
da estruturação de uma verdadeira cidadania ambiental.
O Plano apresenta um leque de seis prioridades, entre muitas que
caberiam no escopo de um conjunto de ações direcionadas às mudanças de
padrão tanto na produção quanto no consumo. São elas: aumento da
reciclagem; educação para o consumo responsável; agenda ambiental na
administração pública, compras públicas sustentáveis, construções
sustentáveis, e varejo sustentável.
Ao selecionar tais prioridades buscamos privilegiar ações
convergentes com os objetivos centrais do Plano, e que contem com
responsabilidades e recursos definidos. Também consideramos o momento
atual e a capacidade de implementação dos diversos atores envolvidos.
Para as temáticas - igualmente importantes, mas ainda não maduras o
suficiente para serem inseridas como prioridade - apontamos outros
mecanismos, para incluí-las mais à frente.
Em essência, não é um plano governamental ou do Ministério do Meio
Ambiente, uma vez que não se estrutura somente em ações governamentais. É
um plano que abriga e agrega também ações importantes do setor
produtivo e da sociedade civil, valorizando esforços que tem por base o
bem público, o princípio da parceria e da responsabilidade
compartilhada.
Como já mencionei, a recente sanção pelo Presidente da Política
Nacional dos Resíduos Sólidos anima e fortalece o atual Plano. Ela
fornecerá em muitos aspectos, as definições conceituais e os
instrumentos legais, assim como o delineamento de incentivos pára que o
Plano ganhe adesão e maior consistência.
O Plano de Produção e Consumo Sustentáveis, em muitas dimensões
contribui para o debate das cidades sustentáveis ao tornar o tema da
reciclagem e da disposição final do lixo um tema central, mas com
soluções de curto e médio prazo.Também contribui com o incentivo ao
retrofit (reformas ou modernização das edificações) e às construções com
critérios ambientais.
A meta de aumentar significativamente a reciclagem resultará em duplo
benefício para a sociedade: de um lado, diminuirá a quantidade de
impactos ambientais - de resíduos a serem descartados - e de outro,
instituirá um novo segmento econômico que tem tudo para crescer e para
incluir; como é o caso dos catadores e das cooperativas que ganharão
extraordinário impulso nesse ciclo. Mas esse movimento não será possível
sem o engajamento do consumidor, portanto da população, e aí temos todo
um campo de atuação para fazer avançar a informação qualificada sobre
produtos, bens e serviços e ajudar os cidadãos a fazerem escolhas mais
inteligentes nos seus hábitos e padrões de compra. Mas não estamos
falando somente dos indivíduos, as instituições públicas e privadas
também são consumidores, também compram bens e serviços e podem exercer
um notável papel indutor no mercado, acelerando o processo de ampliação
da oferta de bens e serviços mais sustentáveis.
Como Ministra de Estado, e em última instância responsável por mais
esse esforço do MMA e de seus parceiros, só tenho a solicitar de todos
os atores que desejem se somar a nós, nesta empreitada, que o façam
usando seus melhores recursos de inteligência e generosidade.
As propostas que o Plano contempla, e que deverão ser aperfeiçoadas
no processo de consulta, são um convite ao aproveitamento e à otimização
de uma série de iniciativas, algumas voluntárias outras estimuladas,
que já estão sendo praticadas e fazendo a diferença. É também uma
convocação no sentido de engajar mais fortemente setores que estão
apenas iniciando seus movimentos em prol da sustentabilidade.
Finalmente, o Plano é, sobretudo, o descortinamento da possibilidade,
aqui e agora, de darmos respostas positivas aos desafios que a
dramaticidade do momento nos solicita e que o otimismo que as
expectativas de desenvolvimento do nosso País requerem. Mãos à obra,
portanto!
Fonte: Mercado Ético, 28/09
Entre e leia a proposta!
Proposta preliminar PPCS para consulta pública
Olá!
ResponderExcluirEstou usando este espaço para conferir proposta de parceria enviada para o e-mail, "contato", há já algum tempo.
Suspendeu a "temporada" de parcerias?
Brincadeira!
Entre em contato.
Um abraço