O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, esteve em Brasília nos dias
16 e 17 de Junho último, como parte de uma viagem a quatro países da
América do Sul quando também visitou a Colômbia, a Argentina e o
Uruguai. No Brasil, o Secretário-Geral esteve pessoalmente, pela
primeira vez, com a Presidenta Dilma Rousseff. Ele também teve a
oportunidade de se encontrar com o Ministro das Relações Exteriores,
Antonio Patriota, com a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e
com a Ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza
Campello. Ban Li-moon se reuniu ainda com lideranças de movimentos
sociais e ONGs, num encontro presidido pelo Ministro-Chefe da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, com o
Presidente do Senado Federal, José Sarney, e com o Presidente da Câmara
Federal dos Deputados, Marco Maia.
Pouco antes de embarcar de volta para Nova York, na sexta-feira, 17
de Junho, o Secretário-Geral da ONU concedeu uma entrevista coletiva
para os correspondentes das agências de notícias internacionais.
Qual são suas expectativas em relação à RIO+20?
Um ponto importante de minha agenda foi a Conferência sobre
Desenvolvimento Sustentável, a RIO+20, já que temos tratado as mudanças
climáticas como uma prioridade da comunidade internacional. No passado,
crises como a de energia ou a de alimentos eram tratadas de forma
separada, mas eu acredito que estas questões estão interconectadas e,
portanto, devem ser tratadas sob uma perspectiva mais ampla e de uma
maneira abrangente. Isto é o que vamos discutir na RIO+20, no Rio de
Janeiro, ano que vem. Tive um ótimo encontro com a Presidenta Dilma
Rousseff e com a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e elas
estão muito comprometidas com estes assuntos e, por isto, conto com sua
liderança. Como Secretário-Geral da ONU tenho um forte compromisso para
fazer desta Conferência um sucesso.
Em 1992, há 20 anos, no Rio de Janeiro, líderes mundiais chegaram a
um acordo histórico para o desenvolvimento sustentável. Durante os
últimos 20 anos, enquanto estiveram implementando estes acordos, os
líderes mundiais não prestaram a devida atenção às consequências de
diversos atos que estamos vivenciado agora. Eles estiveram focados no
crescimento econômico sem considerar suas consequências. Agora, desta
vez, depois de 20 anos, temos de ser muito sérios para tentar encontrar
uma maneira equilibrada e sustentável de alcançar este crescimento. Este
é o principal objetivo desta Conferência de alto nível no Rio de
Janeiro.
Como disse, mudanças climáticas e questões como o manejo da água,
segurança alimentar, e assuntos ligados à saúde, por exemplo, têm sido
tratados de forma específica. Mas todos eles estão interligados,
interconectados. Temos que vê-los de uma maneira mais ampla e
abrangente, em conjunto. É por isto que nomeei o Painel de Alto Nível
sobre Sustentabilidade Global, que é liderado pelo Presidente Jacob
Zuma, da África do Sul, e pela Presidenta Tarja Halonen, da Finlândia, e
formado por vários líderes mundiais. Pedi a eles que apresentassem
recomendações ambiciosas e corajosas, porém práticas, para que estas
recomendações possam ser apropriadamente traduzidas em negociações
intergovernamentais. O processo da RIO+20 vai produzir um texto geral em
Junho do próximo ano. E até lá as negociações continuarão. Por isso não
temos muito tempo. Espero que a RIO+20 seja capaz de chegar a um
histórico, corajoso e ambicioso, mas prático de implementação, para que
possamos fazer deste mundo um ambiente de hospitalidade, onde cada
aspecto de nossa vida possa ser sustentável.
Recentemente alguns países criticaram o método pelo qual são
tomadas as decisões em Conferências que lidam com as mudanças
climáticas. Eles dizem que devem ser por maioria e não por consenso, que
isso está bloqueando as negociações. Qual sua opinião sobre isto?
O processo de tomada de decisão é algo que deve ser determinado pelos
Estados-Membros. Há muitos casos em que as decisões são tomadas por
maioria, mas questões de desafios globais, como mudanças climáticas, que
afetam todas as pessoas em todo o mundo, precisam ser apoiadas por
todos os países do mundo para uma implementação suave e equilibrada.
Mesmo que possa ser um processo exaustivo e frustrante, é melhor
alcançar o consenso entre todos os Estados-Membros. Sei que isto gera
algumas frustrações. Como Secretário-Geral também me sinto frustrado, às
vezes, mas o processo deve ser decidido pelos Estados-Membros.
O senhor se encontrou com a Ministra do Meio Ambiente e ela
deve ter mencionado que o desmatamento da Amazônia aumentou
recentemente. Esse aumento no desmatamento preocupa a ONU?
Em 2007, viajei para a Amazônia e foi uma experiência muito
importante e útil para mim. Nós estamos muito preocupados com o
desmatamento. Globalmente o desmatamento é responsável por cerca de 20%
das emissões de gases de Efeito Estufa e temos que acabar com esta
tendência. Fizemos um bom acordo em Cancún, em 2010, sobre questões do
desmatamento e concordamos em prover os fundos necessários para as
pessoas que dependem destas questões. Isto deve ser trabalhado mais
detalhadamente em Durban, na COP-17 da Convenção-Quadro da ONU sobre
Mudanças Climáticas, em Dezembro deste ano; já falei com o Presidente
Zuma, solicitei ao Governo da África do Sul que liderasse este processo.
O sucesso da Conferência de Durban será de grande ajuda para contribuir
ao sucesso da RIO+20. Sobre medidas domésticas específicas, o Brasil é o
maior país florestal do mundo, e o modo como o país lidará com esta
questão vai fazer uma grande diferença nos esforços globais. Espero que o
Governo brasileiro, o parlamento brasileiro, indústrias agrícolas e
outras comunidades discutam esse assunto de forma mais sincera e mais
séria e tenham em mente que não é uma questão brasileira, é uma questão
global de agir. ECO21
http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/a-rio20-e-uma-questao-global/
Fonte: Mercado Ético, 05/8
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Érica Sena
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