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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Quem chora pelo Rio Doce e reza por Mariana? Érica Sena


Parece atual, mas foi publicado em 1984 no jornal Cometa Itabirano. O poema de Drummond não chegou a ganhar versão em livro

Passamos por um momento conflitante no Planeta Terra e seus habitantes, resultado de décadas e décadas de erros humanos. Assistimos e nos comovemos diariamente com a violência que assola o planeta em troca de um poder doentio, onde matar, roubar, destruir é algo banal na nossa sociedade, demonstrando a falta de amor e compaixão com si mesmo, com o próximo e com a natureza, mas esquecemos rapidamente ao chegarmos no aconchego do nosso lar e nos beneficiarmos com tudo que o capitalismo nos proporciona. A não ser que a nossa comoção nos renda curtidas, ibopes, como tem ocorrido devido ao lamentável ataque terrorista em Paris em resposta aos ataques da França ao estado Islâmico. Confesso que esse fato me deixa irritada, pois noto que muitos se esquecem que existem muitos países, além da bela “ cidade luz” passando por ataques terroristas, fome, miséria, e pior, que dentro do nosso país, a violência, a miséria, assolam, e não mudamos a cor de nossos perfis e monumentos em respeito às vítimas, nem mandamos preces a eles.

Quem chora por Mariana? Quem se comove pela morte do Rio Doce? Quem se preocupa com a lama que se desloca e causa impactos irreversíveis? Quem se entristece pelo descaso com nossos índios, crianças, florestas, rios? Só os ambientalistas? Como sempre, muitos continuam dando mais importância ao que é estrangeiro. Será que até as tragédias de fora terão que ser mais repercutidas e cheias de sentimento de comoção , que os nossos??

Qual tragédia te comove mais: a de Mariana ou a de Paris?



Bento Rodrigues desapareceu do mapa,
pois foi soterrada, se tornando uma terra improdutiva, cheia de lama que demorará anos para secar e voltar a ter alguma serventia, isso se for possível usá-la para algum fim. Em baixo dessa lama bens materiais, seres vivos diversos, incluindo as vítimas fatais, foram asfixiados e mortos pela irresponsabilidade da Samarco.
Por mais que poucas pessoas tenham sido mortas pelo tsunami de lama, o estrago para as famílias que sobreviveram foi enorme, não soterrando apenas o vilarejo, mas conquistas vindas com os bens materiais, sonhos, esperança, lembranças, trabalho, isso sem contar as perdas de entes queridos. Muito triste e revoltante!

Agora, falando como especialista da área ambiental, esse foi uma das maiores catástrofes ambientais ocorridas no Brasil, que será deixada como legado para nossos filhos, netos, bisnetos, e que pode demorar até cem anos para se normalizar.

A tragédia ocorrida pelo rompimento das barragens em Bento Rodrigues- Mariana/MG, em novembro deste ano, foi considerada a mais grave já registrada por uma mineradora no mundo, segundo relatos da Ivig (do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais). O vazamento de 62 milhões de metros cúbicos de lama, equivalente a 24 mil piscinas olímpicas, são provenientes do rejeito de mineração da Samarco, formada por duas gigantes da mineração, a brasileira Vale, maior exportadora de minério de ferro do mundo, e a anglo-australiana BHP Billiton, maior companhia do setor.

Essa lama que se locomoveu em forma de um tsunami varreu do mapa o vilarejo de Bento Rodrigues, zona rural de Mariana, e continuou causando estragos, ao ser despejado ao longo de mais de 500 km na bacia do Rio Doce, a quinta maior do país, atingindo nove cidades em Minas e Espirito Santo, até chegar ao mar, impactando também o ecossistema marinho.

A causa do rompimento ainda está sendo avaliado, mas independente de ter havido um pequeno tremor, chuvas fortes, ou outras causas, é a falta de responsabilidade da Samarco que não teve ações preventivas, permitindo que esse desastre ocorresse, e a falta de fiscalização do governo. Mas pensando bem, se nem o Código de Mineração faz menção à prevenção de acidentes como esse, a quem devemos punir? Será que a nós mesmos, por termos escolhido tão mal nossos representantes?

Sobre os impactos

É difícil elencar quais são os impactos dessa tragédia a médio e longo prazo, tanto ambientalmente, quanto na comunidade local. Os impactos atuais visíveis, são tristes e revoltantes, mostrando o descaso do poder político, e principalmente da empresa responsável, tanto com os moradores do vilarejo soterrado, que vivem sem saber onde irão reconstruir sua vida, quanto na poluição e perda de biodiversidade do Rio Doce, o maior impactado, que abastece a região com água, e fornece os peixes na pesca artesanal dos ribeirinhos, e que agora, morre lentamente devido à falta de oxigênio, decorrente da lama.

Nos locais atingidos pela lama concentrada, um dos impactos ambientais foi mortandade de animais: terrestres e aquáticos, por asfixia e soterramento. Já no Rio Doce, mesmo recebendo a pluma dessa lama mais diluída, há mortandade de peixes, devido a impossibilidade de absorção de oxigênio pelos animais aquáticos, levando a asfixia.

Segundo informações da mídia escrita, a Samarco deverá transferir uma quantidade grande de peixes do Rio Doce para tanques apropriados, e quando o nível de poluição baixar, soltá-los novamente no Rio, a pedido (não ordem) da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Será que cumprirá?
Mas graças ao trabalho voluntários de ongs e da comunidade local, muitos animais estão sendo resgatados e cuidados, e espécimes, principalmente endêmicas do local ou em risco de extinção estão sendo capturados do Rio Doce e transferidos para locais a salvo. Mas infelizmente, muitos animais aquáticos e terrestres não tiveram essa mesma chance e morrem neste mar de lama.

Além da mortandade, a lama deve desencadear uma série de problemas na cadeia alimentar do rio e do mar, causando até o sumiço de algumas espécies” – relata o biólogo Marco Bravo, informa a matéria do G1.

Agora, depois de ler tudo isso, pergunto a você:

Será que esta tragédia, fruto da impunidade e descaso, é menor, do que as ocorridas em outras partes do mundo? 

Felizmente não temos que combater terroristas, mas temos uma luta árdua e constante, aqui no Brasil, contra a impunidade de empresas altamente poluidores e perigosas ao meio ambiente, que não tem o mínimo comprometimento com a sustentabilidade e com a sociedade, apenas com o lucro e o poder. E exigir dos nossos governantes que sigam a legislação ambiental existente, exigindo a prevenção, e reparação no caso de acidentes, e aplicando punições severas.

Quantas tragédias deverão acontecer como essa, para nós nos unirmos e darmos um basta? Esperaremos que outras barragens, já comprometidas da Samarco, se rompam e soterrem a todos nós?

Érica Sena- SP-17/11/15

Este texto foi publicado primeiramente no site Amplifiquem-se, na coluna de Meio Ambiente, na qual sou colunista.

Aproveito para convidar a todos leitores do Pensar Eco a visitarem minha coluna, e as demais deste site.
Érica Sena
http://amplifiquese.com.br/




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