“A reunião começou com ânimo positivo”, é o balanço de Cláudio Maretti, superintendente de conservação do WWF-Brasil, sobre as discussões no primeiro dia, 18 de outubro, da 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 10/CDB).
Após a cerimônia de abertura e a primeira reunião em plenária, os
dois grupos de trabalho oficiais da CDB se reuniram para começar a dar
andamento nas discussões. O primeiro grupo, que é responsável pelo
debate mais técnico dos temas da COP, abordou o tema das águas
continentais (Inland Waters) e montanhas; enquanto o segundo grupo
revisou as metas estabelecidas para 2010 e começou a debater o Plano
Estratégico da CDB para o período de 2011 a 2020.
Nesse primeiro momento, três aspectos se destacaram como de maior
interesse por parte dos países membros da Convenção. O primeiro deles é o
Plano Estratégico com metas de conservação para a próxima década
Plano Estratégico
“Em relação ao Plano Estratégico, os países parecem todos concordar
que é necessário um bom plano, com metas claras, no entanto, existem
algumas diferenças em relação a qual deveria ser seu nível de ambição”,
apontou Maretti.
Um ponto em que ficam evidentes as diferentes posições dos países em
relação ao Plano Estratégico é a missão geral do mesmo. Alguns países
defendem que a missão do plano seja zerar a perda de biodiversidade até
2020, enquanto outros preferem apenas que seja assumir o compromisso do
esforço para reduzir a perda de biodiversidade.
“O WWF-Brasil defende uma meta mais ambiciosa, de acabar com a perda
de biodiversidade até o fim da década, pela importância que a
biodiversidade tem para a qualidade de vida da humanidade, como tem sido
provado em vários estudos científicos. Esperamos que o Governo
Brasileiro mantenhaa defesa do nível de ambição mais alto no plano
estratégico, inclusive atendendo as demandas da sociedade civil em
relação ao posicionamento na COP ”, afirmou Maretti.
“Esse é o ponto mais importante nesta COP-10 e é necessário esforço
de todas as delegações para chegar a um plano estratégico que seja
ambicioso, mas ao mesmo tempo é importante que os países dêem atenção às
condições internas para que esses resultados sejam alcançados após a
COP”, apontou o superintendente.
Pontos delicados
Os outros dois aspectos destacados durante as discussões, mas que
prometem passar por um processo de negociação muito mais complexo e
delicado, são o protocolo de acesso e repartição de benefícios dos
recursos genéticos da biodiversidade (conhecido como protocolo de “ABS”,
na sigla em inglês) e a mobilização de recursos financeiros para
implementação das metas de conservação.
Em relação ao protocolo de ABS, foi criado um grupo de trabalho
informal durante essa primeira semana da COP 10 para debater o assunto e
terminar a elaboração da versão do protocolo que servirá de base para
as negociações de alto nível entre ministros, quando as decisões de fato
são tomadas, na segunda semana que começa no dia 25 de outubro.
Os detalhes e a dificuldade de consenso em torno do tema são tamanhos
que o grupo de trabalho encarregado de finalizar o documento de ABS se
reuniu em quatro períodos durante esse ano e mesmo assim ainda não
conseguiu chegar a um acordo em todos os itens do documento a ser
negociado. A expectativa é que o documento seja concluído na próxima
sexta-feira, dia 22.
O Brasil é uma liderança nesse tema e continua com a posição firme de
vincular a aprovação do plano estratégico inteiro à assinatura de um
protocolo justo e igualitário de repartição de benefícios dos recursos
genéticos. Outros países ricos em biodiversidade, fornecedores
potenciais de recursos genéticos ao mundo, e países em desenvolvimento
em geral acompanham o Brasil nessa posição, enquanto alguns países
desenvolvidos como Canadá, Austrália e Nova Zelândia tem se destacado na
resistência a alguns aspectos do protocolo.
“A Rede WWF e o WWF-Brasil, defendem a prioridade e a necessidade de
termos o protocolo negociado e aprovado. Entendemos que há espaço para
isso se os países entenderem que a justa distribuição dos custos e
benefícios da biodiversidade, da sua conservação e do seu uso
sustentável, é condição sine qua non para o bem estar da humanidade”,
afirmou Cláudio Maretti.
Em discurso na plenária da COP 10, o chefe da delegação brasileira
Paulino Franco de Carvalho apontou a necessidade de se um obter um
pacote de negociação único para o regime internacional de biodiversidade
que inclua o protocolo de ABS, o plano estratégico e a estratégia de
mobilização de recursos e deixou clara a prioridade do país.
“Nós viemos a Nagóia com o intuito de concluir este importante
instrumento que é o protocolo de ABS que deve garantir o fim da
biopirataria e uma eficiente repartição de benefícios”, ressaltou o
representante do Ministério das Relações Exteriores.
Em sua fala, Carvalho também pediu o comprometimento dos membros da
CDB sobre o tema. “Para sermos bem sucedido nisso precisamos do
comprometimento de todos os países signatários e, acima de tudo,
precisamos de vontade política”, afirmou o ministro.
Dinheiro para conservação da biodiversidade
A falta de recursos financeiros para a implementação das metas de
conservação da biodiversidade foram apontados por grande parte dos
países como o principal motivo do não cumprimento das metas
estabelecidas no plano estratégico da CDB para o período de 2002 a 2010.
Portanto, nessa COP, praticamente todos os países em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil, alguns países da América Latina e Caribe, do
sudeste africano e asiático, estão se posicionando firmemente sobre o
tema e querem garantir que terão dinheiro para ações de conservação para
que possam se comprometer com metas ambiciosas.
Um cálculo preliminar aponta que é preciso aumentar em no mínimo dez
vezes o valor da ajuda internacional dos países desenvolvidos para os
países em desenvolvimento, de forma que estes consigam conservar sua
biodiversidade. A Rede WWF e o WWF-Brasil defendem que haja uma meta
referente ao tema no Plano Estratégico 2011-2020 que permita o
monitoramento e a cobrança do cumprimento desse financiamento.
“É muito difícil que a quantidade de recursos disponíveis para o
período seja definida agora na COP, mas é preciso que ao fim da
conferência tenhamos um plano de financiamento concreto, o que de alguma
forma está vinculado à eficácia do Plano Estratégico”, observou o
superintendente de conservação do WWF-Brasil.
Para Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil, “é preciso que os
países desenvolvidos tenham boa vontade política para avançarmos nesses
temas cruciais para o sucesso da COP 10 da CDB e da biodiversidade do
planeta”, afirmou. “O WWF-Brasil está acompanhando de perto as
discussões e está comprometido a ajudar de todas as maneiras possíveis
para que essa COP no Ano Internacional da Biodiversidade seja um marco
na história global”, concluiu Hamú.(WWF)
Fonte: Mercado Ético,20/10
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