O artista plástico Vik Muniz,o brasileiro que conquistou prestígio internacional com uma obra
Fotos divulgação e Oscar Cabral |
DO LUXO AO LIXO Vik Muniz no aterro de Gramacho (à dir.) e fotografia da série dos catadores de lixo que alude ao clássico Atlas, do pintor italiano Il Guercino (1591-1666): o original tem o tamanho de uma piscina olímpica |
Visitar o aterro sanitário do Jardim Gramacho, destino de 80% das 8000 toneladas diárias de lixo produzidas na Grande Rio de Janeiro, é uma experiência que ninguém esquece. No terreno de 1,3 milhão de metros quadrados, às margens da Baía de Guanabara, uma montanha gigantesca de detritos emoldura uma paisagem desolada, pontuada por montículos de material incinerado que lançam no ar uma fuligem que impregna tudo com que entra em contato, e por poças de chorume, o líquido esverdeado que se desprende do lixo em decomposição. Nesse cenário, o fotógrafo e artista plástico Vik Muniz, 47 anos, tocou o seu principal projeto dos últimos anos. Trata-se de uma espécie de negativo do mundo em que ele vem brilhando desde os anos 90 – o mundo das artes plásticas dos Estados Unidos. Muniz é um vencedor: mudou-se para lá jovem e sem dinheiro, há 25 anos, e hoje goza de enorme prestígio. Suas obras estão nas coleções de grandes museus como o Metropolitan, de Nova York, e o Centro Georges Pompidou, em Paris. É também o único brasileiro vivo que consta no livro dos 501 maiores artistas de todos os tempos, da editora Penguin. Cada fotografia de Muniz custa em média 40.000 dólares – e ele não vende menos que cinquenta por ano. No momento, responde ainda pela curadoria de uma mostra de sucesso no MoMA nova-iorquino. A partir de sábado 23, uma retrospectiva de 131 obras no Museu de Arte Moderna do Rio (que em abril aportará no Masp, em São Paulo) dará a chance para que se entendam as conexões entre os dois mundos tão distantes de Vik Muniz.
A série Imagens de Lixo é um dos pontos altos da mostra. Por algumas semanas, Muniz juntou-se aos catadores do Jardim Gramacho na tarefa de revirar as pilhas de lixo que se perdem no horizonte. "O lixo me fascina como todas as partes de nossa história que ficam pelo avesso, ocultas, ou que fazemos questão de varrer para debaixo do tapete", afirma. (Muniz tem pendor para a filosofice. Dá vazão a ela em aulas e palestras, bem como no livro Reflex, de 2007, misto de autobiografia, crônica e ensaio, com reflexões que vão da história da arte à neurologia.)
A escolha de material "estranho" com que trabalhar tem sido uma constante na obra de Muniz. Ele já compôs imagens com açúcar, poeira, sucata, caviar. A cada vez, precisa dominar a substância, com suas características físicas particulares, antes de empregá-la para a pintura ou o desenho (para desenhar com chocolate, por exemplo, é necessário fazer tudo muito rápido – caso contrário, a calda endurece). A fase seguinte é a de recriar imagens célebres da história da arte ou da cultura popular – Boris Karloff com caviar, Liz Taylor com diamantes – sem pudor nenhum de tomar emprestado. Às vezes, Muniz copia o que já era cópia: sua Mona Lisa de pasta de amendoim teve como ponto de partida uma série do americano Andy Warhol, e não o original de Leonardo da Vinci. "Como reza o ditado, ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão", diz o artista. Finalmente, as montagens são fotografadas, o que lhes dá um verniz quase publicitário. O resultado é um entrecruzamento de referências que não são necessariamente difíceis de decifrar – há quem diga que Muniz só emprega "metáforas fáceis" – mas têm uma riqueza inegável, tanto simbólica quanto sensorial. Como comentário social, as Imagens de Lixo não são mesmo profundas, mas sua execução é admirável: usando catadores da usina de reciclagem de Gramacho como modelos, o artista recriou quadros clássicos de Picasso ou Goya, projetou-os no chão de um galpão em dimensões semelhantes às de uma piscina olímpica, usou o lixo para criar contornos, cores e texturas e, finalmente, acionou a máquina fotográfica.
Fotos divulgação |
TAPETE VERDE A recriação da bandeira americana pelo artista e, no detalhe, o emaranhado de folhas e flores que forma sua textura Fonte: Revista Veja |
Oi simpatia, na Paulista (Itau Cultural) Esta em exposição algo parecido, apura mais detalhes, pois passou na TV Globo...
ResponderExcluirQuanto ao lixão do Rio, estava vendo no Maps, a região no entorno da Baia na área da prima estação de ferroviária (Mauá)lugar alto, o governo poderia migrar as pessoas que moram (abaixo do nível do mar)na baixada fluminense.
Bons ventos.