É preocupante. Mais uma grande obra na Amazônia, como a hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, recebeu licença de instalação, passando por cima de exigências legais e de advertências das comunidades locais, de ONGs, da Igreja, de grupos indígenas, do Tribunal de Contas da União, do Ministério Público e de dezenas de cientistas.
Uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente exige que, antes de licenciar, se examine se não há alternativas melhores. E vários estudos mostram que o Brasil, neste momento, pode até viver com 30 por cento menos da energia que consome, com programas de conservação e eficiência energética e conservação. Pode também reduzir as perdas nas linhas de transmissão. E repotenciar geradores de usinas antigas, a custos muito inferiores. Mas nada disso foi considerado.
A usina desalojará dezenas de milhares de pessoas. Levará para o local outras tantas, em busca de emprego, que precisarão de infra-estruturas urbanas inexistentes. Prejudicará a pesca. Afetará o rio com obras maiores que as do Canal do Panamá. E a maior parte da energia irá para a produção de alumínio e ferro gusa para exportação, com tarifas subsidiadas. Além de tudo, o empreendimento contribuirá para uma ocupação desordenada da Amazônia, que já vive uma situação preocupante.
Não basta o IBAMA haver imposto 40 condicionantes para dar a licença seguinte, para obras. No projeto de transposição das águas do São Francisco foram impostas 31 condicionantes. Elas não foram cumpridas e as obras estão em pleno andamento.
Washington Novaes, jornalista, é supervisor geral do Repórter Eco. Foi consultor do primeiro relatório nacional sobre biodiversidade. Participou das discussões para a Agenda 21 brasileira. Dirigiu vários documentários, entre eles a série famosa "Xingu" e, mais recentemente, "Primeiro Mundo é Aqui", que destaca a importância dos corredores ecológicos no Brasil.
Fonte: Repórter Eco