São incontáveis as denúncias de
produtos que se fazem passar por sustentáveis mas não são (ou pelo
menos não totalmente). Há vezes que o barulho da sociedade é tão
grande que consegue mover o poder público e provocar a retirada de
campanhas publicitárias do ar ou a alteração dos anúncios.
Verdade Inconveniente
entrou em contato com o Conar (Conselho
Nacional de Autorregulamentação Publicitária), entidade responsável
por avaliar o teor das propagandas no Brasil, e mostra algumas das
empresas que, por aqui, foram obrigadas a alterar ou suspender a
propaganda ‘verde’.
Petrobras:
Em 17 de abril
de 2008, o Conar suspendeu a veiculação de duas campanhas publicitárias
da Petrobras para meios impressos e internet ( vídeo ). As propagandas apresentavam a estatal como uma “empresa que
respeita o meio ambiente” e “pensa no seu futuro e naqueles que você
ama, buscando novas fontes de energia”. O veto
do Conar foi motivado por uma ação conjunta de ONGs e entidades
governamentais, como as secretarias estaduais de meio ambiente de São
Paulo e Minas Gerais, que afirmaram que a postura da Petrobras “não
condiz com os esforços para uma atuação social e ambientalmente
correta”. As peças davam erroneamente a entender que a estatal
contribuía para a qualidade ambiental e o desenvolvimento sustentável do
Brasil, de acordo com o Conar. A polêmica se apimentou quando as
entidades ambientais disseram que o óleo
diesel da Petrobras é um dos mais poluentes do mundo, piorando a
qualidade de vida dos brasileiros, e que ela não fez investimentos ou
planejamentos que condiziam com as declarações. Uma semana depois, a
estatal recorreu da decisão de suspensão e perdeu novamente.
Monsanto:
Em setembro de 2005, o Conar entrou com uma representação contra a
propaganda para TV “Homenagem da Monsanto do Brasil ao pioneirismo do
agricultor gaúcho”. No vídeo da fabricante de transgênicos (e
herbicidas), um homem diz ao filho que sente orgulho de saber que os
agricultores estão utilizando menos herbicidas e agrotóxicos, protegendo
o meio ambiente. Para o Conar, as afirmações davam a entender que o
cultivo de soja transgênica preserva o meio ambiente, o que não foi
comprovado. A peça publicitária só foi veiculada novamente após algumas
alterações: a Monsanto foi obrigada a explicar na propaganda os riscos
que envolvem o uso de seu herbicida e também foi advertida para fazer a
divulgação apenas em programas dirigidos a agricultores.
Bosch:
Cia.
de Gás de Minas Gerais (Gasmig):
Em novembro de 2008, a Gasmig
publicou um anúncio com a frase “o gás natural da Companhia Energética
de Minas Gerais (Cemig) une desenvolvimento e preservação do meio
ambiente. Move indústria, carros, pessoas, tudo sem poluir. Gás natural,
invisível e essencial”. O Conar tomou conhecimento da propaganda após a
queixa de um consumidor em Belo Horizonte (MG), e acionou a Gasmig. A
defesa da empresa alegou que o gás natural emite 80% menos monóxido de
carbono do que outros combustíveis, mas reconheceu que isso não deixa o
material isento de poluição. A veiculação do comercial foi suspensa e o
Conar advertiu a Gasmig para evitar futuros deslizes com materiais
publicitários relacionados à natureza.
Shell:
O problema é que a petroleira, na mesma época,
planejava construir a maior refinaria da América do Norte. A organização
ambiental WWF afirmou que a extração de petróleo nas areias canadenses
era “extremamente ineficiente e destruía a floresta virgem da região”. A
Shell disse que a tecnologia reduziu a poluição da área em 60%, mas a
ASA manteve o veto, com os argumentos de que o projeto tinha impactos
sociais e econômicos enormes, atrapalhava a conservação da água e
aumentava a quantidade de lixo e CO2 emitidos.(Felipe Pontes)
Fonte: Revista Galileu, 21/05/10