Marcado nos últimos meses por temporais, enchentes e tremores de
terra, o Nordeste sofre com um mal silencioso que pode causar prejuízos
ainda mais sérios à população que mora no semiárido: a desertificação. O
processo atinge oito dos nove Estados da região, além do norte de Minas
Gerais.
Segundo estudos, o clima no semiárido está cada vez mais seco, a
temperatura máxima da região tem apresentado aumento significativo e as
áreas sofrem com chuvas mais intensas, mas com intervalos maiores que a
média histórica. Com as mudanças climáticas, quatro áreas desertificadas
já foram identificadas por análises recentes.
Segundo relatório do Programa de Combate à Desertificação e Mitigação
dos Efeitos na América do Sul, realizado por um instituto ligado a OEA
(Organização dos Estados Americanos), a área afetada de forma “muito
grave” no Brasil chega a atingir 98.595 km², ou 10% do semiárido
brasileiro. Desse total, quatro são os chamados “núcleos de
desertificação”, que estão nos municípios de Gilbués (PI), Irauçuba (CE)
e Cabrobó (PE), além da região de Seridó (RN), totalizando uma área de
18.743,5 km² (equivalente a 2.082 campos de futebol).
“Essa áreas já podem ser consideradas desertos e pior: estão se
expandindo. Isso choca, mas é real”, afirmou o meteorologista Humberto
Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de
Imagens de Satélites, localizado na Universidade Federal de Alagoas.
De acordo com o PAN (Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, ligado Ministério do
Meio Ambiente), 1.482 municípios estão em área suscetível à
desertificação em nove Estados (Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de Minas Gerais).
Essa área responde por 15,7% do território brasileiro, onde moram 31,6
milhões de pessoas.
Para o PAN, entre as principais causas do avanço da desertificação no
país estão o extrativismo, o desmatamento desordenado, as queimadas e
uso intensivo do solo na agricultura.
“Para diminuir o avanço da desertificação são necessários medidas
como conservação do solo, da água e das florestas, ações para evitar
desmatamentos, queimadas, uso de agrotóxicos, e sensibilização da
população, principalmente das comunidades rurais”, afirmou Humberto
Barbosa.
Segundo ele, há métodos para reduzir o avanço da desertificação no
semiárido. “O caminho a percorrer é longo. A lógica é defender a
prevenção, e aspectos como democratização da informação, formação
voltada a uma melhor compreensão sobre as terras secas, participação
qualificada, além de fortalecimento institucional e das instâncias de
participação”, analisou o meteorologista.
Aumento de temperatura
Se as imagens de satélite
apontam para um intenso processo de desertificação, outros estudos em
solo também mostram que as mudanças climáticas no semiárido brasileiro
estão em curso.
Um estudo realizado pelo Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), em parceria com o Laboratório de Meteorologia de
Pernambuco, aponta que as temperaturas médias das cidades fora do
litoral estão aumentando de forma rápida.
Em 40 anos, por exemplo, cidades como Vitória de Santo Antão, na zona
da mata pernambucana, registrou um aumento de 3,5°C (31,5ºC para 35ºC)
na temperatura máxima diária. Enquanto isso, o estudo aponta que aumento
médio da temperatura mundial, no mesmo período, foi de 0,4°C.
“Os dados mostram que a tendência de aumento das temperaturas máximas
está presente nas séries históricas de todos os postos estudados.
Amparados por outros aspectos relativos ao solo e vegetação, não
estudados, tais constatações poderiam indicar que a região estivesse
sofrendo um processo de desertificação. Mas esta afirmativa no momento
ainda seria precipitada com base somente nos dados e métodos
utilizados”, afirmou pesquisador do Inpe Paulo Nobre.
Além do aumento da temperatura, Nobre explica que as pesquisas
apontam que as chuvas na região estão ficando mais intensas, porém, com
períodos de estiagens mais longos, e o ar está cada vez mais seco. ( Carlos Madeiro/ UOL Notícias)
Fonte: Ambiente Brasil, 06/08
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