A
medida que a atenção se concentra cada vez mais nos temas ambientais
globais, como a mudança climática, esquecem-se problemas locais como a
alarmante perda de biodiversidade. Os governos não conseguiram cumprir
sua promessa de chegar a 2010 com uma redução significativa da perda de
diversidade biológica. Isso é o que acaba de reconhecer o Centro de
Monitoramento para a Conservação Mundial, ligado às Nações Unidas. A
notícia não causou nenhum escândalo. Pelo contrário, passou
desapercebida.
Os países signatários do Convênio sobre a Diversidade Biológica
acordaram em 2002 que deveriam obter uma significativa redução no ritmo
da perda de biodiversidade para 2010, Ano Internacional da Diversidade
Biológica. A recente avaliação dessa meta, encabeçada por Stuart H. M,
Butchart, do Centro de Monitoramento para a Conservação Mundial do PNUMA
(Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), baseou-se em uma
série de indicadores, tais como a apropriação de recursos naturais, o
número de espécies ameaçadas, a cobertura de áreas protegidas, a
extensão de bosques tropicais e manguezais e o estado dos arrecifes de
coral. O período avaliado foi amplo: de 1970 a 2006.
Os resultados são conclusivos em demonstrar que a biodiversidade
declinou nas últimas quatro décadas. Essa diminuição pode ser observada
em distintos grupos animais, como mamíferos ou aves. Reduziu-se também a
extensão dos bosques e manguezais e se deterioraram as condições
marinhas, por exemplo, nas zonas com arrecifes de coral. As tendências
agregadas dos indicadores de estado também pioraram. Em nenhum caso, se
identificaram reduções dos ritmos de perdas.
A informação parcial disponível também aponta que os ambientes
naturais estão se subdividindo e se fragmentando, com o que sua
qualidade de reservatório de fauna e flora se deteriora. Um exemplo
disso é o caso da Mata Atlântica brasileira que, no passado, foi o
segundo bosque mais extenso da América do Sul e do qual se conservam
aproximadamente 10%, numa área fragmentada em parcelas diminutas (80%
dos remanescentes têm uma extensão inferior a 0,5 quilômetro quadrado).
O estudo mostra também o agravamento de outros processos, como um
maior consumo dos bens que os ecossistemas produzem ou a invasão de
espécies exóticas que substituem as nativas. Em nenhum caso se
identificaram reduções nas pressões sobre os ecossistemas.
Essa avaliação não desconhece alguns avanços e tendências positivas,
como o aumento na cobertura das áreas protegidas, a inclusão sob
proteção de novas áreas chave para a biodiversidade ou o aumento da
superfície de bosques manejados de forma sustentável (1,6 milhões de
quilômetros quadrados). No entanto, o balanço final indica que, em
escala global, é altamente improvável que se cumpram os objetivos de
conservação fixados para 2010. Os esforços realizados para conservar a
biodiversidade têm sido claramente inadequados, com uma defasagem
importante entre as crescentes pressões humanas e uma série de respostas
lentas e insuficientes.
Estes resultados são consistentes com a avaliação preliminar da
situação ambiental sulamericana, divulgada recentemente pelo Centro
Latinoamericano de Ecologia Social (CLAES), onde se alerta que o
resultado final entre as pressões e os usos da natureza e as medidas de
conservação é um contínuo aumento da deterioração ecológica.
Essa grave situação está passando desapercebida enquanto a discussão
latinoamericana sobre temas ambientais está cada vez mais absorvida
pelos temas da mudança climática global. É necessário alertar sobre
estas tendências e redobrar os esforços para que os governos e as
sociedades promovam medidas mais efetivas de conservação, incluindo
realmente essa dimensão nas estratégias de desenvolvimento, e garantindo
o financiamento e respaldo necessários para cumprir com os compromissos
assumidos anos atrás.
Soledad Ghione*
* Soledad Ghione é pesquiadora do CLAES (Centro Latino Americano Ecología Social) www.ecologiayconservacion.com
Tradução: Katarina Peixoto- (Carta Maior)
Fonte: Ambiente Brasil, 05/08
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