Pesquisa da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em
Piracicaba, mapeia a diversidade genética da comunidade de fungos
endofíticos presentes em folhas e ramos das principais espécies arbóreas
de manguezais de Cananéia (SP) e Bertioga (SP).
O estudo também avalia o
potencial biotecnológico desses fungos em relação à produção de
antibióticos contra os patógenos humanos Staphylococcus aureus e
Escherichia coli e contra o fitopatógeno Xanthomonas campestris citri.
O trabalho avaliou a comunidade fúngica presente nos manguezais
brasileiros por meio do estudo da diversidade de fungos endofíticos
associados aos ramos e às folhas de três espécies arbóreas dos
manguezais (Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e Avicennia
nítida).
A pesquisa levou em consideração possíveis efeitos de
diferentes fatores, como as espécies de plantas, o órgão vegetal (ramo e
folha), a estação do ano (verão e inverno) e os locais de coleta
(Cananéia e Bertioga, impactado e não impactado).
“A versatilidade bioquímica e a diversidade biológica de fungos
endofíticos representam uma enorme variedade de genes que ainda são
desconhecidos, os quais podem apresentar importantes aplicações
biotecnológicas e agrícolas”, afirma Fernanda Luiza de Souza
Sebastianes, autora do estudo. “Esses estudos são importantes pois
alterações na comunidade fúngica podem estar relacionados com o
equilíbrio do ecossistema, estabilidade, estabelecimento da planta e
rendimento”, lembra a pesquisadora.
O estudo também realizou a caracterização química do antibiótico
ácido 3-hidroxipropiônico produzido pelo fungo endofítico Diaporthe
phaseolorum, seguindo a premissa da necessidade crescente da busca por
microrganismos produtores de novos compostos bioativos mais efetivos,
menos tóxicos e que causem menor impacto ambiental. “Este fungo foi
selecionado por apresentar notável capacidade de produzir antibiótico
inibidor do crescimento de patógenenos e por ser encontrado como gênero
mais abundante dentre os fungos endofíticos isolados no trabalho”,
destaca a estudiosa.
Potencial
A pesquisa revela que o grande potencial dos manguezais como fonte de
novos agroquímicos e compostos medicinais tem sido muito relatado e que
esse notável potencial biotecnológico das plantas de manguezais pode
estar relacionado com a comunidade de fungos endofíticos que estabelece
associação mutualística com a planta. “Por essa razão, cada vez mais a
comunidade endofítica dessas plantas tem sido investigada. Esses estudos
são importantes pois permitem o acesso a novas espécies de fungos e
metabólitos produzidos pelos manguezais, bem como o estudo da interação
entre planta hospedeira e fungo endofítico”, afirma Fernanda.
A pesquisadora assegura que há uma necessidade crescente com relação à
descoberta de novos compostos antimicrobianos, devido à resistência dos
microrganismos patogênicos como consequência do uso abusivo e
indiscriminado de antibióticos. “A diversidade estrutural de compostos
químicos provenientes de fungos endofíticos é grande, incluindo inúmeras
atividades farmacológicas, tais como antitumoral, antioxidantes,
antinflamatórias, antimicrobiana, dentre outras”, descreve.
O trabalho integra o Projeto Temático BIOTA, “Biodiversidade e
Atividades Funcionais de Microrganismos de Manguezais do Estado de São
Paulo”, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp). Parte da pesquisa aconteceu no Laboratório de Farmacognosia do
Departamento de Farmacologia da Universidade de Valência (Espanha),
sob supervisão do professor Diego Miguel Cortes Martinez, onde foram
realizados estudos sobre a identificação do antibiótico ácido
3-hidroxipropiônico.
Outras moléculas vem sendo identificadas no Laboratório de Genética
de Microrganismos, do Departamento de Genética da Esalq e, ainda, no
setor de Microbiologia da Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, (interior
de São Paulo), sob supervisão dos doutores Itamar Soares de Melo, Angela
Maria Montes Peral Valente, Paulo Teixeira Lacava, Aline Aparecida
Pizzirani-Kleiner e João Lúcio de Azevedo. A pesquisa de Fernanda é
descrita na tese de doutorado Diversidade genética e potencial
biotecnológico de fungos endofíticos de manguezais do estado de São
Paulo, apresentada na Esalq (Agência USP)
Fonte: Mercado Ético, 08/09
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Érica Sena
Pensar Eco