Foi lançado no seminário “Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia” o segundo estudo “Quem se beneficia com a destruição da floresta”.
A
investigação traz exemplos de atores que produzem gado de corte, soja e madeira
envolvidos com o desmatamento ilegal e o trabalho escravo que se conectam a
outros, indústrias ou tradings, até chegar a varejistas que operam na capital
paulista. Dessa forma, grandes empresas baseadas em São Paulo, e seus clientes,
acabam financiando, mesmo sem saber, cadeias produtivas insustentáveis.
Objetivo principal da investigação: é alertar as empresas e os consumidores
sobre a importância de adotar modelos de negócios que não financiem a exploração
predatória dos recursos naturais, a degradação de trabalhadores ou que cause
danos às populações tradicionais.
É possível produzir na Amazônia sem
devastá-la.Obter alimentos e móveis de forma sustentável, com respeito ao meio
e às comunidades que dele dependem.
Povos indígenas, comunidades tradicionais e pequenos agricultores estão no
topo da lista dos que saem perdendo. No entanto, essa relação é ainda mais
longa, uma vez que não só o Brasil, mas o planeta inteiro é afetado pela
exploração inconseqüente dos recursos naturais, já que a floresta em pé é
decisiva para a manutenção da qualidade de vida de milhões de pessoas. Entre
outras funções vitais, ela regula o regime de chuvas e a temperatura média de
uma extensa área do globo.
A responsabilidade social empresarial deve ser exercida em sua plenitude e
não apenas em ações de marketing social ou de filantropia.
O consumidor precisa
urgentemente ser educado e se educar para não comprar, sob nenhuma condição,
produtos que tenham crimes ambientais e trabalhistas em sua cadeia de produção.
O governo precisa tornar eficiente sua capacidade de fiscalização, educação e
repressão às ações criminosas.
O pode judiciário deve se agilizar e fazer o que
for necessário para evitar que um processo por destruição ambiental ou por
trabalho escravo se arraste por anos.
Os agentes financiadores, públicos e
privados, não podem mais injetar recursos em processos predatórios, seja através
de compras públicas ou de financiamento à produção.
O ato da compra é um ato político poderoso. Através dele damos um voto de
confiança para a forma pela qual determinada mercadoria é produzida. Um
exercício democrático que não é exercido apenas a cada quatro anos, mas no nosso
dia-a-dia. E que pode ditar o destino da maior floresta tropical do mundo e de
sua gente.
Ou seja, também cabe a cada um de nós, paulistanos, decidir o futuro
da Amazônia.
O formato do estudo, tocado pela Repórter Brasil e a Papel Social
Comunicação, é multimídia e livre para navegar como quiser. Esse é o novo modelo
de divulgação de estudos e pesquisas que vem sendo adotado por organizações
sociais na Europa e nos EUA. Não polui, circula mais, é acessível ao público
(que vai consumir a informação e não guardá-la no armário ou usá-lo como
anteparo para o monitor) e não é (tão) chato.
Exemplo de caso: A madeira duvidosa dos prédios de luxo
O problema: Um prédio de luxo da capital paulista – que tem a Tecnisa e a
Stuhlberger como investidoras e a SKR como construtora responsável pela obra –
utilizou madeira comercializada pela Sulmap. A empresa está envolvida em
diversos ilícitos ambientais e sociais, como uso de planos de manejo irregulares
e exploração ilegal de toras em terra indígena.
O caso: A Sulmap é controlada pelo Grupo Sincol, uma das maiores companhias
do setor madeireiro no país. A corporação conta com 1,7 mil funcionários e
produz principalmente portas e esquadrias, abastecendo o mercado nacional e
exportando para América do Norte, União Européia e Oriente Médio. Também possui
marcas próprias de portas, como Silentia, Sinkit, Indoor e Corta Fogo. O Grupo
Sincol detém o selo da Forest Stewardship Council (FSC), a mais conhecida
certificadora de madeira do planeta.
Possui tanto áreas de manejo quanto
produtos certificados, mas que não se aplicam à Sulmap. Porém, em acordo com as
diretrizes do FSC, o grupo “reconhece que deverá ter uma mesma política em todas
as unidades de manejo sob sua administração, mesmo aquelas que não estão
abrangidas no escopo do certificado”.
Apesar de ter assumido esses compromissos ambientais, a madeireira Sulmap é
acusada pelo Ministério Público Federal de envolvimento em grilagem de terras,
uso de planos de manejo ilícitos e invasão de terra indígena em Colniza (MT). O
local é palco de violentos conflitos fundiários e a madeireira é acusada de
incentivar atividades de associação de agricultores para expulsar os índios do
território. Além disso, a Sulmap consta da lista de embargos do Ibama. Desde
2006, o órgão interditou a exploração de uma área equivalente a 753 campos de
futebol no município de Vera (MT) por conta de desmatamento de vegetação
amazônica nativa em área de reserva legal.
Em 2009, a Sulmap forneceu produtos beneficiados de madeira para a construção
de um prédio de luxo – o Sollo Vila Romana – localizado na Vila Romana, bairro
nobre de São Paulo (SP). A incorporação do edifício é de responsabilidade da
Fábia Empreendimento Imobiliário, uma sociedade de propósito específico com
capital das construtoras Stuhlberger e Tecnisa. A obra é tocada pela SKR
Engenharia.
O que dizem as empresas: A assessoria de comunicação da Tecnisa afirmou que a
empresa não tem responsabilidade sobre as obras do Sollo Vila Romana, pois a
participação da construtora estaria restrita “à parte de investimento de
capital”.
Assim como a Tecnisa, a direção da Stuhlberger também afirmou que “tem sua
participação na Fábia Empreendimentos Imobiliários SPE Ltda como investidora”
apenas.
Já o engenheiro da SKR responsável pela obra do Sollo Vila Romana emitiu nota
manifestando “surpresa” e “desconhecimento” sobre os problemas socioambientais
relacionados à Sulmap. O funcionário da empresa também afirmou que os produtos
de madeira adquiridos para a obra teriam sido acompanhados das devidas notas
fiscais e guias florestais. “Acreditamos desta forma, que cumprimos todas as
formalidades legais necessárias para evitar a compra de madeira ilegal (tendo em
vista todos os documentos apresentados)”. Leonardo Sakamoto
Para acessar o estudo, clique
aqui (em flash).
* Leonardo Sakamoto é jornalista,
doutor em Ciência Política e coordenador da ONG Repórter Brasil e seu
representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho
Escravo.
Fonte: Mercado Ético
Muito boa a matéria de Leonardo Sakamoto.
Érica Sena
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