Por que tanta polêmica em torno da manutenção do que resta das nossas florestas?
Será possível que ambientalistas, cientistas, religiosos, empresários,
representantes de comunidades, movimentos sociais e tantos cidadãos e
cidadãs manifestem sua indignação diante do texto do Código Florestal,
aprovado pela Câmara dos Deputados, apenas por um suposto radicalismo ou
desejo de conflito sem cabimento? Será justo afirmar que os defensores
das florestas não levam em conta as pessoas e suas necessidades de
produzir e consumir alimentos? Do que se trata, afinal? O que importa
para todos os brasileiros?
Importa,
em primeiro lugar, esclarecer a grande confusão sob a qual se criam
tantas desinformações: não está se fazendo a defesa pura e simples das
florestas. Elas são parte dos sonhos de um país com mais saúde, menos
injustiça, no qual a qualidade de vida de todos seja um critério levado
em conta. Um Brasil no qual os mais pobres não sejam
relegados a lugares destruídos, perigosos e insalubres. No qual a
natureza seja respeitada para que continue sendo a nossa principal fonte
de vida e não a mensageira de nossas doenças e de catástrofes.
A
Constituição Brasileira afirma com enorme clareza esses ideais, no seu
artigo 225, quando estabelece que o meio ambiente saudável e equilibrado
é um direito da coletividade e todos – Poder Público e sociedade – têm o
dever de defendê-lo para seu próprio usufruto e para as futuras
gerações
Esse
é o princípio fundamental sob ataque agora no Congresso Nacional, com a
aprovação do projeto de lei que altera o Código Florestal. 23 anos após
a vigência de nossa Constituição quer-se abrir mão de suas conquistas e
provocar enorme retrocesso.
Há
décadas se fala que o destino do Brasil é ser potência mundial. E
muitos ainda não perceberam que o grande trunfo do Brasil para chegar a
ser potência é a sua condição ambiental diferenciada, nesses tempos em
que o aquecimento global leva a previsões sombrias e em que o acesso à
água transforma-se numa necessidade mais estratégica do que a posse de
petróleo. Água depende de florestas. Temos o direito de destruí-las
ainda mais? A qualidade do solo, para produzir alimentos, depende das
florestas. Elas também são fundamentais para o equilíbrio climático,
objetivo de todas as nações do planeta. Sua retirada irresponsável está
ainda no centro das causas de desastres ocorridos em áreas de risco, que
tantas mortes têm causado, no Brasil e no mundo.
Tudo
o que aqui foi dito pode ser resumido numa frase: vamos usar, sim,
nossos recursos naturais, mas de maneira sustentável. Ou seja, com o
conhecimento, os cuidados e as técnicas que evitam sua destruição pura e
simples.
É
mais do que hora de o País atualizar sua visão de desenvolvimento para
incorporar essa atitude e essa visão sustentável em todas as suas
dimensões. Tal como a Constituição reconhece a manutenção das florestas
como parte do projeto nacional de desenvolvimento, cabe ao poder público
e nós, cidadãos brasileiros, garantir que isso aconteça.
Devemos
aproveitar a discussão do Código Florestal para avançar na construção
do desenvolvimento sustentável. Para isso, é de extrema importância que o
Senado e o governo federal ouçam a sociedade brasileira e jamais
esqueçam que seus mandatos contêm, na origem, compromisso democrático
inalienável de respeitar e dialogar com a sociedade para construir
nossos caminhos.
O
Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável,
criado pelas instituições abaixo assinadas, convoca a sociedade
brasileira a se unir a esse desafio, contribuindo para a promoção
do debate e a apresentação de propostas, de modo que o Senado tenha a
seu alcance elementos para aprovar uma lei à altura do Brasil.
Brasília, 7 de junho de 2011
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Forum de ex-ministros de meio ambiente
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,
Movimento SOS Florestas
Via Campesina
Federação de Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf Brasil)
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
Comitê Intertribal da Rio+20
Associação Brasileira das ONGs (ABONG),
Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
Rede de Juventude Pelo Meio Ambiente (REJUMA)
Movimento Amazônia para Sempre
Movimento Humanos Direitos (MUDH)
Instituto Democracia e Sustentabiliade (IDS)
Greenpeace Brasil
Instituto Socioambiental (ISA)
Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST)
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC)
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Associação (Apremavi)
Imaflora
Instituto Centro de Vida (ICV)
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)
WWF Brasil
SOS MATA ATLÂNTICA
Associação Alternativa Terrazul
Vitae Civilis
Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional (FASE)
IBASE
Sinpaf – Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário
Fórum Nacional de Reforma Urbana
Rede Ecumênica da Juventude (REJU)
Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN)
Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC)
SOS Clima Terra
Movimento Inovação Brasil (MIB)
Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS)
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Érica Sena
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