Na quarta-feira, 22, o Instituto Observatório Social lançou a publicação " O Aço da Devastação" publicação que denuncia as irregularidades ambientais e trabalhistas da cadeia produtiva do aço. A pesquisa coordenada pelo jornalista Marques Casara, revela dados vergonhosos na produção do Aço no Brasil. O trabalho de reportagem começou em Nova Ipixuna (PA), onde, no dia 24 de maio, foram assassinados José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, que denunciavam a devastação da floresta para produzir carvão e madeira.
Em algumas siderúrgicas do polo de Carajás, grandes exportadoras de
ferro gusa usam carvão do desmatamento e do trabalho escravo nos
processos produtivos. A prática contamina toda a cadeia produtiva do aço
e chega a montadoras de veículos, fabricantes de eletrodomésticos, de
aviões e de computadores.
A fraude acontece por meio da compra de carvão esquentado por
mecanismos de fraude diretamente ligados à corrupção nos órgãos de
fiscalização. Grandes siderúrgicas exportadoras estão envolvidas, como
Cosipar, Sidepar, Margusa e Gusa Nordeste.
A pesquisa detalha como operam grupos criminosos do qual fazem parte empresários, políticos e servidores do governo do Pará.
Em seu trabalho, Casara mostra que em algumas siderúrgicas, o uso do carvão ilegal sustenta mais da metade de toda a produção. Essa conclusão foi possível após a obtenção de dados referentes à produção anual de cada siderúrgica em 2010. Essas informações eram mantidas em sigilo para evitar o cruzamento de dados e a obtenção do índice de ilegalidade.
Em seu trabalho, Casara mostra que em algumas siderúrgicas, o uso do carvão ilegal sustenta mais da metade de toda a produção. Essa conclusão foi possível após a obtenção de dados referentes à produção anual de cada siderúrgica em 2010. Essas informações eram mantidas em sigilo para evitar o cruzamento de dados e a obtenção do índice de ilegalidade.
A pesquisa revela ainda diversos casos nos quais o carvão é entregue
sem documento ou com o uso de documentos forjados e como governos
municipais e o governo estadual é conivente com crimes ambientais e
trabalhistas, muitas vezes usando aparatos de Estado para acobertar
ações criminosas que tem o objetivo de devastar áreas de preservação
ambiental e terras indígenas.
Outro ponto de destaque no estudo é o passo a passo de como operam
grandes complexos carboníferos usados para lavar carvão ilegal para as
siderúrgicas. É o caso, por exemplo, da Indústria de Carvão Vegetal Boa
Esperança, que controla 96 fornos no município da Jacundá (PA). Em março
de 2011 a empresa declarava ter, no pátio, 325 MDC de carvão. A
contagem forno e forno, realizada por fiscais do IBAMA, mostrou que a
empresa, de fato, só tinha 113 MDC de carvão. A diferença entre 113 e
325 (212) é usado para lavar carvão proveniente de carvoarias
clandestinas, que retira a madeira de áreas de preservação e usa
trabalhadores em condições degradantes.
A lavagem é feita da seguinte forma: o carvão produzido em outro local
usa o crédito da carvoaria legalizada para esquentar o produto e dar a
ele uma aparência legal. Somente na Boa Esperança, 66% do carvão
declarado pela empresa não está, de fato, no pátio. Com isso, a empresa
pode vender 66% dos seus créditos de carvão. Assim, o carvão chega à
siderúrgica como sendo da Boa Esperança, mas de fato veio de carvoarias
ilegais. É o esquema básico de lavagem ou esquentamento e que só pode
funcionar quando há conivência dos órgãos de fiscalização estaduais e
municipais.
A Boa Esperança faz parte de uma rede de ilegalidade na região de
Jacundá. Seu proprietário opera com cerca de 15 CNPJs e usa essas
empresas para lavar o carvão entregue para as siderúrgicas de ferro
gusa. Boa parte desse carvão é fornecido por um das mais colossais
estruturas de ilegalidade existentes na Amazônia Brasileira: 500 fornos que operam na clandestinidade, na periferia da
cidade, a cerca de 10 quilômetros da prefeitura e que nos dias quentes
mantém a pequena cidade sob um manto de fumaça proveniente dos fornos.
Fumaça de carvão ilegal que todos veem, todos sentem e todos sabem onde
fica.
Outro ponto que será desvendado pela pesquisa será o uso de créditos de
madeira concedidos a assentamentos rurais direcionados a agricultura
familiar. Novamente, os créditos de madeira são vendidos para as
carvoarias. Um dos esquemas está em operação em Tucuruí. A madeira nunca
sai do assentamento, mas por uma triangulação envolvendo madeireiras,
empresas agropecuária e carvoarias, os créditos também são usados para
esquentar carvão para o setor siderúrgico.
Nem as tradicionais quebradeiras de coco de babaçu estão livres de
serem usadas pelo esquema. Como a casca do coco de babaçu não precisa de
guia florestal para ser transportada até as carvoarias, as siderúrgicas
supervalorizam a quantidade de carvão produzida a partir dessa matéria
prima. Os pesquisadores estiveram nos locais onde as quebradeiras de
coco trabalham e elas confirmam o problema, que também está sendo
investigado pelo Ibama no Maranhão e no Pará.
O mesmo problema acontece com o eucalipto: também não precisa de guia
florestal, de modo que as siderúrgicas maquiam boa parte da ilegalidade
usando como fachada a produção de eucalipto. "As empresas precisam
mostrar onde está todo esse eucalipto, pois de fato ele não existe",
dizem os agentes do Ibama responsáveis pela fiscalização no Pará e no
Maranhão.
Leia mais sobre o assunto na Revista do Observatório Social disponível neste link abaixo:
http://www.observatoriosocial.org.br/portal/noticia/780
Revistas sobre este assunto do Observatório Social
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