Uma  ótima e agradável matéria acabei de ler no site, que gosto muito, Mercado Ético. E compartilho com vcs essa viagem pelas profundezas de Sampa, que no dia 25 de janeiro completará 458 anos.
São Paulo e sua natureza oculta
| Trabalho de plantio e recuperação da paisagem feito com a população em Heliópolis, em São Paulo – Foto: Floresta Urbana | 
Em tempos de ameaças ao Código Florestal, com alterações que implicam
 na redução das matas ciliares que protegem os rios, os desafios para 
obtenção de água nunca foram tão visíveis como no cotidiano das grandes 
cidades. 
O impacto das enchentes em metrópoles como São Paulo espelha, 
por exemplo, o forte elo entre chuvas e cobertura do solo, assim como a 
relação entre qualidade da água e proteção da superfície. Mas rios e 
córregos não desaparecem simplesmente com o concreto, ou deixam de 
interagir com o entorno quando canalizados. Mesmo doentes, esses 
mananciais permanecem vivos e em constante relação com o ambiente 
urbano.
Poucos sabem que a cidade de São Paulo está construída sobre uma 
imensa bacia hidrográfica onde cerca de 2 mil quilômetros de rios fluem 
sob o asfalto.
 Ou que em bairros da zona oeste da cidade é possível 
visualizar nascentes de afluentes do rio Pinheiros ao fundo de muitas 
casas e lojas, um deles com sua foz ao lado do shopping Iguatemi. 
Por 
trás da realidade urbana, a natureza sobrevive e expressa fenômenos 
singulares que sustentam a qualidade da vida nas cidades.
“Apesar de ‘enterrados vivos’, os rios são anteriores à ocupação 
humana e podem nos conduzir à redescoberta de elementos fundamentais na 
paisagem. 
"Abrir os olhos e reconhecer a presença desses elementos 
promove uma compreensão afetiva do uso do espaço urbano”, coloca Luiz de
 Campos Junior, geógrafo e coordenador da ONG Rios e Ruas.
 A entidade 
promove expedições para o reconhecimento in loco da natureza soterrada 
por ruas e construções em São Paulo, visando despertar em jovens e 
adultos a percepção para os recursos hídricos, as árvores e as memórias 
das paisagens nativas.
O trabalho nasceu da tentativa dos coordenadores da ONG em 
transformar informações teóricas em ações de campo. 
“Há tanta água em 
São Paulo que a cada 150 metros de onde estamos calcula-se haver um rio".
 
 Com essa informação, decidimos sair atrás das nascentes do córrego 
Iquiririm, no bairro do Butantã, onde moramos. Fomos percebendo sinais 
da vegetação de várzea no bairro, notamos a água atravessando escolas e 
casas, e logo descobrimos as nascentes brotando no chão. 
A vontade de 
compartilhar a emoção desse contato impulsionou a iniciativa da Rios e 
Ruas”, conta José Bueno, arquiteto e coordenador da entidade, que desde 
2010 já levou cerca de 300 pessoas para caçar rios na cidade.
A última expedição do grupo visou identificar o trajeto do rio 
Corujas, na zona oeste de São Paulo. Segundo um dos participantes, o 
educador Eduardo Shimahara, a aventura permitiu desvendar até a formação
 geológica da cidade, composta por um tipo de rocha sedimentar rica em 
ferro. 
“Explorar rios é só a ‘ponta do iceberg’ de uma oportunidade 
maior de entender o processo de urbanização e de fazer contato com 
elementos da natureza perdida no meio da selva urbana”, expressa 
Shimahara, que aproveitou a expedição para observar pela primeira vez 
uma árvore de tamarindo sobrevivendo em pleno asfalto.
Em São Paulo, amantes de árvores também podem conhecer espécies 
vegetais diferenciadas, por meio do trabalho da ONG Árvores Vivas, que 
leva comunidades, escolas e empresas para passeios em praças e ruas da 
metrópole. 
 As visitas sensibilizam para a beleza da vegetação, mas 
também para informações históricas, culturais e científicas.
 “O objetivo
 é despertar para a natureza que habita os caminhos do dia a dia, 
perceber detalhes únicos, notar que além do tronco marrom e da copa 
verde, cada árvore possui identidade e segredos”, reforça Juliana Gatti 
Pereira, coordenadora da Árvores Vivas.
Movimentos que visam reavivar a relação da população com recursos 
invisíveis são cada vez mais frequentes em todo o mundo. Em Londres, 
Inglaterra, a iniciativa London’s Lost Rivers virou livro e permitiu à 
população recuperar a história da cidade por meio do impacto sobre seus 
principais rios, enquanto em Sidney, na Austrália, é comum cidadãos se 
encontrarem para troca de sementes de árvores australianas nativas. Em 
Guarulhos, São Paulo, após realizar uma expedição com 90 moradores de 
uma comunidade de baixa renda, a equipe do Rios e Ruas constatou na 
prática o potencial de conscientização do trabalho.
 “Percorremos o alto 
dos morros, vimos nascentes e andamos junto aos afluentes locais, a 
grande maioria logo entendeu a importância das áreas de preservação 
permanente e por que construir edificações nas margens significa falta 
d’água no futuro”, afirma Luiz de Campos Junior.
 Floresta urbana
| Objetivo é promover a integração entre natureza e cidade – Foto: Floresta Urbana | 
Serviços ambientais prestados pela natureza em grandes cidades 
beneficiam a qualidade de vida, com efeitos mensuráveis para a saúde das
 pessoas ou a infraestrutura urbana. 
Na tese de doutorado Natureza nas 
Megacidades, realizada pela Universidade Bauhaus (Alemanha) em convênio 
com a FAU-USP (Brasil), o urbanista Jörg Spangenberg faz revelações 
significativas sobre os benefícios das superfícies verdes em São Paulo, e
 mais extensamente em megacidades localizadas nas latitudes tropicais.
Equilíbrio climático, conforto térmico, purificação dos recursos 
naturais, como água, solo e ar, estão entre os benefícios da vegetação 
urbana, que hoje não poderiam ser substituídos de forma tão eficiente 
por qualquer outra solução técnica.
 Spangenberg demonstra, por exemplo, 
que para cada R$ 1 investido em plantio e manutenção de áreas verdes na 
cidade de São Paulo, a Prefeitura deixa de gastar no mínimo R$ 5 em 
saúde, construção de “piscinões” e canalização de córregos. “A natureza 
trabalha de graça e, sob o aspecto funcional, investir em cidades verdes
 significa economizar custos,além do aspecto simbólico da natureza que 
remete às origens do território”, diz o pesquisador.
Seu estudo embasou a criação da ONG Floresta Urbana, para difundir a 
importância do enverdecimento das cidades, especialmente em São Paulo, 
com uma proposta mais ampla que o simples plantio de árvores.
 O objetivo
 é promover a integração entre natureza e cidade, ampliando a 
valorização do lugar onde vive 80% da população, e fazer uso das 
superfícies verdes de forma geral, como fachadas, telhados, muros ou 
jardins suspensos, com envolvimento das pessoas. 
“A vegetação urbana é 
negligenciada pelos cidadãos, por governos e pelas estruturas 
econômicas, quase ninguém a vê, mas ela está lá. A ideia é recuperar a 
harmonia possível entre esses elementos naturais e as construções, pois 
um não precisa substituir o outro”, defende Thelma Spangenberg, 
coordenadora da Floresta Urbana.
Um importante resultado da tese Natureza em Megacidades é a 
constatação de que a má distribuição do verde está relacionada a 
contrastes socioambientais, ou seja, quanto menos cobertura vegetal 
maior a desigualdade social.
 Em Heliópolis, São Paulo, onde a ONG 
realizou trabalho de plantio e recuperação da paisagem com a população, 
os efeitos da urbanização impactam diretamente o conforto térmico e o 
uso de energia. “Às nove horas de um dia de verão, a temperatura 
percebida chega a 30ºC, caindo para menos de 20ºC com a simulação do 
sombreamento das árvores, o que refletiria em eficiência energética, 
purificação da água, do ar, entre outros benefícios”, explica 
Spangenberg.
Tais análises embasam o paisagismo urbano, que depende de 
intervenções planejadas e não da simples recuperação aleatória do verde. 
 Apesar disso, em três anos de existência, a Floresta Urbana concluiu 
que a contribuição individual para a qualidade ambiental é sempre 
positiva no balanço geral.
  Duas árvores juntas podem ser até cinco vezes
 mais efetivas do que uma única árvore isolada. 
Com isso, surgiu o 
projeto “Então, faço eu!”, com piloto na região da avenida Sumaré, zona 
oeste, visando a formação de um pequeno corredor verde no bairro. Ali, 
vizinhos já fazem a compostagem do lixo orgânico caseiro, depositado num
 coletor coletivo, produzem terra preta, e assistem ao retorno da fauna 
com o crescimento de árvores introduzidas paulatinamente por cada um na 
área. (Heloísa Bio, para o Brasil de Fato)
Fonte: Mercado Ético,13/01 

