Quando os prefeitos
assumiram seus cargos no início deste ano, provavelmente já perceberam o grande
“abacaxi” que precisam descascar: o
gerenciamento de resíduos sólidos municipais.
O prazo
derradeiro da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei 12.305/2010)
para acabar com lixões e implantar sistemas de coleta seletiva é agosto de
2014. Quanto mais a data se aproxima, gera uma grande dor de cabeça aos
gestores municipais (ou pelo menos, deveria).
O principal
problema é que a maioria ainda pensa com mentalidade ultrapassada, acostumada a
jogar todo lixo em um grande buraco, a céu aberto, misturados, sem valor algum.
Os inúmeros lixões demonstram a ausência histórica de preocupação com o meio
ambiente e saúde das pessoas – algo sobre o qual, felizmente, já começa a haver
mais consciência.
Sem contarem com
equipes capacitadas na área ambiental, com raríssimas exceções, os Prefeitos não
possuem meios para aplicar a legislação. Assim, permanece o famoso jeitinho para
cuidar do lixo. Muitos prefeitos, de cidades maiores, são procurados por diversas
empresas de limpeza urbana, mas que também ainda não adaptaram seu modo operandis, realizando apenas a velha
coleta, sem separação e adequada destinação.
Um novo importante
instrumento para mudar essa situação é justamente a responsabilidade
compartilhada pelos resíduos sólidos, que implica na participação de cidadãos e
empresas no gerenciamento de resíduos. Os geradores devem separar na fonte,
conforme a destinação ambientalmente adequada para cada um.
Os resíduos recicláveis
devem ser encaminhados novamente para o setor produtivo, de preferência para
Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis, promovendo a inclusão
social e a formalização e remuneração justa do trabalho. Os resíduos orgânicos
devem ser transformados em adubo por meio da compostagem. Somente os rejeitos,
que são aqueles resíduos sem tecnologia ou viabilidade econômica para
reaproveitamento ou reciclagem, devem
ser encaminhados para disposição final ambientalmente adequada em aterro
sanitário, devidamente licenciado.
A boa noticia é
que os rejeitos, em média, correspondem a 20% do peso dos resíduos sólidos
urbanos domiciliares em uma cidade. Os recicláveis correspondem a 30% e os
orgânicos a 50%. Ou seja, aproximadamente metade do “abacaxi” pode ser
descascado por meio da compostagem.
Atordoados, os prefeitos
ouvem sugestões de todo lado e tendem a adotar medidas mais baratas (e em
flagrante desacordo com a lei). Mas, não há solução milagrosa, nem “baratinha”.
Os Prefeitos que apostarem nisso correm sério risco de serem acusados em ações
judiciais promovidas pelo Ministério Público. A
negligência e a omissão configura improbidade administrativa, condutas
pelas quais os Prefeitos respondem pessoalmente, ou seja, com o próprio CPF.
Não dá mais para
enrolar. Os atuais lixões, herança de antigas administrações, precisam ser
encerrados de forma adequada. Isso implica na elaboração e implantação de um
Plano de Recuperação de Área Degrada (PRAD) e na construção de novos aterros
sanitários, que podem ser feitos em consórcio com outros municípios.
É preciso enfrentar
logo o problema de frente. A coleta seletiva
tem que acontecer e os catadores de materiais recicláveis precisam de organização.
Prefeitos, já é hora de deixar de lado o preconceito com a compostagem! É um
processo simples, só não estão acostumados a fazer.
Enfrentar o
desafio de cuidar de lixo é um ato de coragem dos prefeitos. Ou eles compram
essa briga, com toda atenção, disposição, seriedade e investimentos
necessários, ou, como sempre se fez, mais e mais lixo será gerado a cada dia
sem a correta destinação. E o abacaxi vai ficando cada vez mais difícil de
descascar.
Fernando de Barros é engenheiro
civil, especialista em Planejamento e Gestão Ambiental, mestre em Engenharia de
Edificações e Saneamento e responsável técnico da Master Ambiental. www.masterambiental.com.br
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