Inscreva-se no Feed do Pensar Eco e receba os posts por email!

www.pensareco.com

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

VIII CBUC: Estratégia para engajamento da sociedade deve contar com programa de voluntariado para jovens


Mais informações da VIII CBUC
‪#‎CBUCnoPensarEco‬

O assunto foi discutido durante a palestra da diretora do Programa de Gestão de Parques Golden Gate, Sue Gardner no Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC).

Para que a conservação da natureza seja prioridade na sociedade, é preciso que ela faça parte da vida dos jovens e crianças. Essa é a opinião de Sue Gardner, diretora do Programa de Gestão de Parques Golden Gate (EUA). Após mais de 20 anos gerenciando voluntários em um dos parques mais famosos dos Estados Unidos, ela afirma que é necessário envolver jovens em ações práticas e que o trabalho voluntário, às vezes obrigatório inicialmente, é um caminho efetivo. “Em nossa experiência esses programas têm se mostrado uma forma poderosa de conectar a comunidade com nossas áreas protegidas e inspirar jovens a investir na proteção dos nossos recursos naturais”.

Sue é uma das palestrantes da oitava edição do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (VIII CBUC), que está sendo realizado em Curitiba (PR) até amanhã (25) na ExpoUnimed. O evento é realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em comemoração aos 25 anos da ONG. Sua palestra foi sobre ferramentas de engajamento, cidadania e construções coletivas.

A diretora afirmou que seu trabalho é focado em programas para jovens como estratégia de engajamento da sociedade e que ela definiu seis elementos base para um programa de sucesso: oferecer um senso do propósito; trabalhar em equipe; oferecer incentivo econômico (mesmo que pequeno); incluir um componente de aprendizado; integrar trabalho e diversão; e oferecer desafios físicos e mentais.

Segundo ela, oferecer um senso de propósito é importante porque ele permite que os jovens vejam a importância do seu trabalho e como eles podem fazer a diferença. Além disso, incluir um componente de aprendizado em um programa não apenas fornece aos líderes a oportunidade de ensinar sobre as áreas protegidas e o meio ambiente, como também sobre liderança, trabalho em equipe e habilidades práticas. “Eu também acredito ser muito importante considerar as formas que escolas podem se envolver de maneira mais efetiva, como oferecendo mais estudos sobre educação ambiental (não apenas ciência), exigir serviço comunitário, e desenvolver parcerias e toda uma estrutura que permita estudantes se engajarem de forma prática aprendendo fora da sala de aula”, explica.

Sobre sua participação no VIII CBUC, Sue Gardner afirmou estar honrada pelo convite e entende que plataformas como essa são muito importantes. “Ao compartilhar nossas histórias, conhecimentos, sucessos e desafios, nós conseguimos aprender novos caminhos, compreendemos diferentes perspectivas, inspiramos uns aos outros a tentar coisas novas e nos apoiamos para continuar trabalhando mesmo com as dificuldades”, ressalta. Segundo ela, uma afinidade é desenvolvida entre as pessoas que ultrapassa a cultura individual, nacionalidade ou fronteiras. “Isso nos lembra de quanto nós estamos conectados uns aos outros”, conclui.

Confira a entrevista concedida por Sue Gardner à Fundação Grupo Boticário.

1. Você teve que fazer trabalho voluntário quando jovem para uma atividade escolar, como era isso? Como essa experiência influenciou o seu trabalho atual?
Quando eu estava no ensino médio, nós tínhamos que completar 100 horas de trabalhado voluntário para podermos nos formar. Como a maioria dos estudantes, na época eu senti que isso era um grande fardo, mas essa foi uma experiência transformadora para mim. Para cumprir minhas horas, eu me voluntariei como conselheira em um acampamento para crianças e adolescentes que tiveram alguma experiência traumática e tinham bem poucos recursos. A força e a resiliência das crianças que eu conheci me inspiraram e ampliaram minha visão de mundo. Nós passamos grande parte de todos aqueles dias brincando ao ar livre, e, por meio disso, eu percebi pela primeira vez os efeitos curadores da natureza e do meio ambiente. Mesmo depois que completei minhas horas obrigatórias eu continuei como voluntária todos os verões até que o acampamento foi fechado por conta de falta de financiamento.
Essas primeiras experiências ecoam em meu trabalho de hoje de várias formas: o foco no trabalho com a juventude em contato com a natureza, e o entendimento que as experiências de imersão e de trabalho ativo junto ao meio ambiente podem conectar e curar pessoas. Eu também sou uma grande defensora de integrar serviços sociais obrigatórios nos currículos escolares ou requisitos para graduação.

2. Quais são os principais desafios que você enfrenta em seu trabalho?
Nesse campo, o maior desafio é assegurar financiamento estável. Nós somos afortunados porque temos 25 anos de financiamento consistente, o que possibilitou focarmos nossa energia na construção da comunidade e não na exaustiva tarefa de buscar recursos. Um desafio que eu normalmente me refiro como ‘o melhor desafio possível’ é que nosso programa de verão tornou-se tão popular que nós tivemos que dizer não a alguns jovens que queriam participar. Nós já dobramos de tamanho e agora estamos trabalhando, por meio de parcerias criativas, para continuar essa expansão.
Outra dificuldade que enfrentamos é o esgotamento da equipe. Construir e sustentar relacionamentos demanda uma grande quantidade de energia, e é um ingrediente chave na sensibilização da comunidade. Para todos nós que nos engajamos nesse tipo de trabalho, achar o equilíbrio é a chave para não nos exaurirmos.

3. Como o governo, ONGs e instituições podem engajar as pessoas em alguma causa?
Eu encorajaria o governo a desenvolver mais programas de educação ambiental nos sistemas escolares, começando com crianças bem novas e deixar que elas tenham essas experiências por si mesmas.
Outra forma é conectar o aprendizado de dentro da sala de aula com experiências na natureza, seja com visitas a um parque com brinquedos para as crianças se divertirem ou uma área natural na qual os jovens possam ser ativos. Parcerias com instituições sem fins lucrativos que podem oferecer experiências de imersão em períodos de férias ou em contraturno, que amplifiquem as aulas de ciência oferecendo aos jovens experiências práticas também é um bom caminho.
ONGs e instituições podem desempenhar importante função como parceiros oferecendo financiamento de programas (tanto internos como externos à sala de aula), orientação e oportunidades de emprego para jovens.
Normalmente, fundações são estruturadas para oferecer investimentos pontuais ao invés de apoio contínuo para programas. Esses financiadores precisam modificar a forma como os investimentos são feitos, desenvolvendo uma estrutura que ofereça financiamento consistente e duradouro. Isso permitiria a expansão de programas, bem como possibilitaria às organizações construir uma infraestrutura estável que crie caminhos para sustentar a participação da comunidade.

4. E nas causas ambientais, existe um jeito diferente de engajar as pessoas?
Sim e isso requer uma mudança na perspectiva e algum redirecionamento de recursos. No geral, o movimento ambiental tende a falar para as pessoas que já são convertidas, isto é, eles buscam o apoio daqueles que já são conectados de alguma forma e entendem as necessidades e os desafios. Mudança mais significativa virá quando modificarmos nosso foco, educarmos melhor e engajarmos aqueles que estão desconectados com a causa, especialmente os que estão em áreas urbanas e tem o poder de votar pelas mudanças e, ao fazer isso, direcionem mais apoio e recursos para nossas áreas protegidas.
Financiamento, quando está disponível, normalmente é direcionado para compra de terras ou construção de estruturas, ao invés de desenvolver programas que envolvam a comunidade. Desenvolver uma comunidade mais conectada necessitará de mais investimentos em programas de imersão, especialmente para adolescentes e jovens.

Uma mudança na perspectiva tem sido uma parte chave do nosso trabalho em Golden Gate. Como gestores, ao invés de esperar as pessoas irem aos parques, nós agora estamos indo até as comunidades e os convidando. Nós estamos perguntando nós mesmos como podemos ser melhor utilizados pela comunidade ao nosso redor. Por exemplo, como nós podemos apoiar nossos professores de ciências e ajudá-los a enriquecer suas aulas? Como nós podemos usar oportunidades no parque para oferecer emprego para os jovens da região, especialmente aqueles que mais precisam? Como nós podemos fazer os parques serem mais acolhedores para as comunidades que tradicionalmente não os usam? Ao invés de nos voltarmos para dentro, nós estamos nos voltando para fora, sendo proativos na criação de pontes até as comunidades ao nosso redor.

Fonte: Nqm

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pensar Eco agradece sua visita!
Comente, sugira, critique, enfim, participe!!! Isso é muito importante!
Abs,
Érica Sena
Pensar Eco

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...