Albert Appleton afirma que todos os setores da sociedade precisam atuar
juntos; Especialista alerta para os perigos do fracking, técnica de extração de gás que está
chegando ao Brasil.
O americano Albert Appleton contou como salvou a metrópole Nova Iorque
(EUA) da sua crise de abastecimento de água nos anos 90, nesta quarta-feira
(23), na oitava edição do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (VIII
CBUC), um dos maiores eventos ambientais da América Latina. Durante o evento,
que é promovido desde 1997 pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
e nesta edição é comemorativo aos 25 anos dessa ONG, o consultor
internacional em infraestrutura e meio ambiente falou sobre
como mobilizou a sociedade, governo, mídia e pequenos produtores para impedir
que as pessoas sofressem com a falta de água.
A grande ameaçada à vida
na Big Apple na década de 1990 foi
por conta da deterioração dos mananciais que abasteciam a cidade, impulsionada pelo
crescimento desenfreado da população e da economia que demandava por cada vez
mais água. Nova Iorque estava enfrentando várias secas e os reservatórios
estavam em menos de 30% de sua capacidade.
Na
época, Appleton era o responsável pelo Departamento de Proteção Ambiental da
cidade e sua missão era conseguir uma solução que agradasse a todos. Uma das
lições que aprendeu rapidamente foi a importância de envolver a comunidade.
“Para
que as pessoas atuem em conjunto com o governo, aderindo às orientações deste, é
preciso mostrar que as lideranças estão fazendo a sua parte e não, apenas,
exigindo dos outros essa postura”, ressalta Appleton.
A
partir disso, ele envolveu diversos setores da sociedade – agências do governo,
ONGs, proprietários de terra com nascentes dos rios – para que, juntos,
chegassem a uma solução. A resposta veio e parecia simples: investir na
conservação do meio ambiente. Porém, o diferencial estava em como isso seria
feito: redução do desperdício e educação da população; preservação dos
ambientes naturais dos mananciais que fornecem água e valorização dos pequenos
proprietários que participassem do projeto.
O incentivo
aos proprietários seria financeiro: eles iriam receber uma premiação em
dinheiro por conservar as áreas naturais responsáveis pelo fornecimento do serviço
ambiental de produção de água. “A melhor garantia de água boa é um bom meio
ambiente e isso significa usar de forma inteligente os recursos que ele
oferece, valorizando os atores que são essenciais nesse processo”, explica.
Esse foi um dos primeiros casos de sucesso do que atualmente se chama Pagamento
por Serviços Ambientais (PSA).
No Brasil, a Fundação Grupo Boticário foi uma
das pioneiras em iniciativas de PSA. Desde 2006, a ONG já premiou 230 proprietários
protegendo mais de 2700 hectares e 189 nascentes, nos estados de São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais. Mais de oito milhões de pessoas já foram
beneficiadas indiretamente com abastecimento de água pelo Oásis no Brasil.
Fracking precisa ser combatido
Em
tempos de crise hídrica, uma prática que tem gerado polêmicas antes mesmo de
chegar ao Brasil é o fraturamento hidráulico. Conhecida como fracking, ela consiste em inserir uma
tubulação no solo por onde é injetado, sob alta pressão,entre
sete e 15 milhões de litros de água, além de areia e mais de 600 produtos
tóxicos, para liberar o gás de xisto, que tem características semelhantes ao
petróleo. Essa prática contamina lençóis freáticos, utiliza grande quantidade
de água – que poderia ser destinada a outros fins, esteriliza o solo,
tornando-o inútil para a agropecuária; além de poluir o ar com gás metano e
poder gerar até mesmo terremotos.
Appleton
falou brevemente sobre o tema, mas foi enfático: “essa prática muda
completamente o meio ambiente onde se instala, desmatando florestas e acabando
com os mananciais”. Ele afirmou que essa forma de extração gera muito mais
destruição do que benefícios. “Além dessa modificação do ambiente e da
poluição, o fracking gera emissão de
gases de efeito estufa, como o metano, então qual é o benefício de se gerar uma
energia que contribui para o aquecimento global?”, conclui.
Para
impedir que o fracking chegue a terras
brasileiras, a Coalizão NãoFraking Brasil realiza em 04 de outubro, uma ação
global para esclarecer sobre os perigos dessa prática.
Interessados em
participar podem obter mais informações pelo site www.naofrackingbrasil.com.br.
A data foi escolhida por ser
próxima ao primeiro leilão que a Agência Nacional de Petróleo de Gás Natural
(ANP) irá realizar em 07 de outubro para leiloar 266 poços para exploração de
gás por fracking. Dentre eles existem áreas em cima dos Aquíferos
Serra Geral e Guarani no Paraná e São Paulo, próximos ao arquipélago de
Abrolhos, na Bahia, e na parte sul da floresta amazônica.
Importância
de compartilhar experiências
Sobre sua participação no VIII CBUC Appleton afirmou
que essa “é uma discussão importante em um país que abriga
12% da água doce superficial do mundo”. Além dele, o evento
já contou com palestras da ambientalista Marina Silva e do o
conservacionista canadense Ryan Hreljac. Ainda
participarão do VIII CBUC o cineasta Fernando Meirelles e o responsável pelo
Google Maps na América Latina, Tomás Nora. Mais informações sobre a programação
dos eventos estão disponíveis em: www.fundacaogrupoboticario.org.br/cbuc.
Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação
Data: até 25 de
setembro
Local: ExpoUnimed – Curitiba
(PR)
Mais informações: www.fundacaogrupoboticario.org.br/cbuc.
Sobre o Congresso
Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC) - O Congresso Brasileiro de Unidades de
Conservação é promovido periodicamente pela Fundação Grupo Boticário de
Proteção à Natureza. A oitava edição do CBUC acontece de 21 a 25 de setembro de
2015 no ExpoUnimed (PR). Os patrocinadores desta
oitava edição são: Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Conservação
Internacional do Brasil e Votorantim. A primeira edição do CBUC aconteceu em 1997 em
Curitiba (PR); em 2000 foi realizada em Campo Grande (MS); em 2002 em Fortaleza
(CE); em 2004 em Curitiba (PR); em 2007 em Foz do Iguaçu (PR); em 2009, aconteceu
novamente em Curitiba (PR); e, em 2012 em Natal (RN). Mais de 10 mi pessoas já
participaram do evento.
Fonte: Nqm Comunicação
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