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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Estratégia internacional reduz gastos públicos em até 90%


Experiência de outros países foi apresentada em Curitiba (PR), por Musonda Mumba, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Musonda Mumba, referência em implantação de iniciativas de adaptação às mudanças climáticas com base em ecossistemas (AbE), participou da oitava edição do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (VIII CBUC). A zambiana que tem PhD em conservação de áreas alagadas e hidrologia e atua no Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP, na sigla em inglês) falou sobre a importância da utilização dessa estratégia, principalmente em comunidades sensíveis – como as ribeirinhas e as indígenas.

Os efeitos das mudanças climáticas causam prejuízos econômicos, privados e públicos, significativos no Brasil. Um exemplo é do estado de Santa Catarina que, em 2004, foi atingido pelo furacão Catarina, deixando nove mortos e perdas da ordem de US$ 1 milhão de dólares, segundo relatório da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS).  A estratégia apresentada durante o evento garante economias de até 90% nos investimentos necessários em ações de adaptação às mudanças climáticas em todo o país.

Exemplo internacional
Segundo Musonda, dados do relatório The Economics of Ecosystem and Biodiversity(TEEB) da UNEP apontam que no Vietnã, por exemplo, a proteção de doze mil hectares de manguezais custou aproximadamente US$1 milhão, porém economizou mais de US$7 milhões de custos anuais com manutenção de diques – que fazem parte da chamada infraestrutura cinza. A adaptação com base em ecossistemas propõe a utilização da chamada ‘infraestrutura verde’ na adaptação às mudanças climáticas: no caso do exemplo vietnamita, a proteção natural dos manguezais.

Um exemplo é o caso da região do Vale Hidden (EUA), que deveria receber investimentos na ordem de US$20 milhões para retirar nitrogênio do esgoto por meio de tratamento convencional. Ao usar uma opção de infraestrutura verde  foram utilizadas plantas que têm a capacidade de filtrar resíduos e matéria orgânica, deixando a água limpa para retornar aos rios –  o projeto custou apenas 10% do valor (US$2 milhões).

Estratégia ainda dá primeiros passos no Brasil
A estratégia de AbE, apesar de relativamente recente, já tem começado a ganhar notoriedade internacional em virtude dos bons resultados de diversos países. No Brasil, o estudo ‘Adaptação Baseada em Ecossistemas: oportunidades para políticas públicas em mudanças climáticas’, divulgado em janeiro deste ano pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza foi apresentado ao Ministério do Meio Ambiente, que irá incluir a adaptação com base em ecossistemas no Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, a ser lançado para consulta pública em breve.

O estudo contabilizou experiências de AbE em todo o mundo e foram identificados cerca de cem estudos de caso. Desses, 25% ocorrem no continente africano e 19% ocorrem na Europa desde 2009, sendo que o Brasil possui apenas 10 casos ou identificados. Desse modo, o potencial de economia que o país pode vir a ter com essa estratégia é muito alto.

Benefícios vão além da economia

Com duas décadas de experiência em conservação em diversas partes do mundo como o próprio Vietnã, Ilhas Fiji e Peru, Musonda veio ao Brasil pela primeira vez especialmente para o CBUC, evento promovido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em comemoração aos 25 anos da ONG.

De acordo com Musonda, os benefícios econômicos são grandes, mas não são o único foco da adaptação com base em ecossistemas. “Ao usar estratégias de AbE, olha-se para o problema de forma holística, levando em consideração fatores que normalmente não seriam considerados em uma abordagem tradicional. Além disso, a abordagem de AbE oferece mais força e resiliência às comunidades para que não sofram tanto com os reflexos das alterações do clima”, explica. Os impactos dessas mudanças vão de perdas na produção agropecuária até mesmo de vidas humanas, por conta de eventos climáticos extremos, como enchentes, até desequilíbrios que podem implicar na redução da disponibilidade de algum bem natural que seja base de uma determinada economia local – como peixe para os ribeirinhos, por exemplo.

Benefícios para todos
Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, destaca que os ecossistemas, quando equilibrados, têm muito a oferecer à humanidade e de diversas formas. “Se olharmos pelo prisma econômico, além da AbE ser mais barata, também é preciso lembrar que até mesmo as grandes corporações dependem de algo da natureza, seja eletricidade, água e/ou matéria-prima”. Já pelo lado socioambiental, ela explica que esses ecossistemas têm o poder de amenizar e até mesmo evitar desastres causados pela mudança do clima, como enchentes e deslizamentos de terra. “Além disso, quando em equilíbrio, eles oferecem diversos serviços ambientais como produção de água, alimentos, formação e fertilização do solo, regulação do clima da região, enfim, são necessidades básicas para a existência dos seres humanos”, comentou.

Complementando esse lado observado por Malu Nunes, Musonda ressalta ainda que os ecossistemas também têm um aspecto cultural que precisa ser preservado. “A Amazônia, por exemplo, oferece um serviço cultural importantíssimo para as comunidades locais, que dependem não apenas dos recursos naturais que a floresta oferece, mas também vivem do turismo gerado a partir dela e possuem forte identificação cultural com esse ambiente”, explica.

O Brasil tem muito a aprender

Sobre a crise hídrica que o país tem enfrentado, Musonda afirma que esse é um problema que está vindo à tona agora, mas que acontece há muito tempo. Ela referiu-se à distribuição desequilibrada e à competição desigual entre os mercados internos. “Acredito que é preciso que os vários setores se conversem – privado, público, comunidades – para que cheguem a um equilíbrio, pois normalmente o que vemos são as indústrias e energia recebendo muita água para seus processos e pouca água sendo destinada ao consumo doméstico da população”, explica.

Fonte: NQM Comunicação

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Abs,
Érica Sena
Pensar Eco

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