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terça-feira, 1 de março de 2016

Leonardo DiCaprio faz a parte dele. E você? Ricardo Voltolini


O discurso ambientalista de Leonardo DiCaprio ao receber o prêmio de melhor ator e a engajada performance musical de Lady Gaga fizeram do Oscar 2016 uma improvável arena política para defesa de causas socioambientais. Ao falar sobre a dificuldade que a produção de O Regresso teve para encontrar neve, DiCaprio ressaltou a ameaça das mudanças climáticas. E defendeu que já passou da hora de agir e apoiar os líderes globais, não os de grandes empresas, mas os representantes dos que tiveram as “suas vozes sufocadas pela ganância política.”
Gaga surpreendeu a plateia ao cantar Till It Happens to you, trilha do documentário The Hunting Ground, sobre abusos sexuais nas universidades norte-americanas. No final da apresentação, ofegante, nitidamente emocionada e ao lado de um grupo de jovens “vítimas” do tema do filme, a cantora mostrou que não estava ali para fazer figuração blasé em festa de gala.
O ativismo de DiCaprio e Gaga lembrou-me de uma polêmica matéria de capa feita pela revista Time há alguns anos, cuja tese era que os ídolos podem ser levados a apoiar causas por culpa, fé, sofrimento pessoal, reputação, autopromoção ou mesmo interesse político.
Opiniões controversas á parte, até mesmo a reportagem, claramente crítica, reconheceu o que já se sabe sobre a força dos militantes célebres: dotados de carisma, credibilidade pública e uma aura mítica, eles têm o poder de turbinar as bandeiras que levantam, não apenas com a doação de recursos financeiros – o que toda celebridade já fez um dia– mas botando o dedo na ferida de questões críticas em relação às quais as pessoas tendem a ficar indiferentes. Goste-se ou não, aprove-se ou não a sua motivação, eles são porta-vozes de uma nova ética, socialmente responsável, altruísta e engajada.
Personagem da matéria da Time, o cantor e compositor Peter Gabriel, co-fundador da ONG Witness, achava mais fácil engajar-se em algo por causa dos apelos emocionais da bela Angelina Jolie do que pelo discurso sisudo do secretário-geral da ONU. E quem há de discordar disso?
Estrela maior de Hollywood, embaixadora da boa vontade da ONU, Jolie sabe bem o poder de influência de suas atitudes, razão pela qual abusa dos gestos simbólicos e com forte significado humanitário, como, por exemplo, adotar um menino do Cambodja e uma menina da Etiópia, desviando a atenção do mundo para a situação de risco social das crianças desses países.
Raciocínio semelhante vale para Bono Vox, da banda irlandesa U2, astro pop reconhecido por sua peleja contra as injustiças sociais. Considerado figurinha carimbada entre os que torcem o nariz para artistas engajados, Vox multiplica o prestígio das causas que apoia.
Quando não está nos palcos, ele pode ser visto discutindo temas sociais no Fórum Econômico de Davos (Suíça), ou à frente de ações pela paz, meio ambiente e igualdade étnica. Sua marca pessoal, permanentemente em alta, é objeto de concorrência entre instituições e estadistas de todo mundo, como são também as de Paul MacCartney, Matt Damon, Alicia Silverstone e Daryl Hannah.
Pode-se até acusar Jolie e Vox, ou DiCaprio e Gaga, de autopromoção. E sempre haverá os patrulheiros de plantão a fazê-lo pelo vício mesmo de julgar. Mas num mundo de holofotes, conectado em redes, no qual a informação circula à velocidade da luz, eles nada mais fazem do que colocar a serviço de causas o melhor do seu patrimônio: uma imagem poderosa capaz de atrair as câmeras na direção de tudo o que tocam.  Integram o time dos engajados no Brasil, gente como Lenine, Daniela Mercury, Gisele Bündchen, Camila Pitanga, Letícia Spiller e Marcos Palmeira.
Voltando à matéria da Time, lembro que a revista propôs uma reflexão válida ainda hoje. O ativismo das celebridades pode até soar algo ridículo, ressaltava a revista. Mas apenas porque ele nos lembra que nós o somos também quando perdemos tempo com assuntos menos importantes, ignorando questões cruciais para a vida de outras pessoas mais vulneráveis.
A matéria destacava certa “apatia” das pessoas, que se contentam em criticar – ou, acrescento, babar o ovo de – os ídolos engajados em vez de assumir atitudes mais socialmente responsáveis.
Pensemos um pouco nesse puxão de orelhas.  Acho que ele vale não só para cobranças feitas aos ídolos, mas também às empresas que se dizem sustentáveis. Com o crescimento do movimento de sustentabilidade empresarial no Brasil, tendemos todos a ficar mais exigentes e vigilantes em relação ao comportamento das corporações.
Este é um movimento saudável, útil e necessário. Mas vale refletir: até que ponto cada pessoa faz a sua parte, na condição de profissional, consumidor e cidadão, para, por exemplo, reduzir impactos ambientais, integrar ações pela diversidade, punir empresas pouco éticas deixando de comprar seus produtos e estabelecer relações transparentes com todas as “partes interessadas” de sua vida?
Antes de projetar no outro –o ídolo, a empresa, os governos– o desejo de que façam o que, a rigor, não estamos fazendo, por inércia ou comodismo, importa compreender que a responsabilidade social tem também um componente individual. E que não pode ser terceirizada.
Só colaboradores compromissados formam uma empresa sustentável. Só consumidores conscientes, convictos do seu papel, retroalimentam, na ponta, o ciclo de responsabilidade social empresarial. Só cidadãos plenos ajudam a construir uma sociedade melhor, com ídolos, governos e empresas melhores.

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Abs,
Érica Sena
Pensar Eco

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